REPÚBLICA COMUNISTA DOS GUARANIS - Comandante Insurgente SEPÉ TIARAJU
"Hay hombres que luchan un dia y son buenos Hay otros que luchan um año y son mejores Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos Pero hay los que luchan toda la vida Esos son los imprescindibles" (Bertolt Brecht)
"A classe hegemônica dos grandes proprietários rurais começa a sentir que está perdendo a guerra ideológica de seu individualismo capitalista para uma economia mais solidária de pequenas propriedades familiares ou comunitária, de associações populares e cooperativas", escrevem Antônio Cechin e JacquesTávora Alfonsin, no artigo que publicamos, hoje, Antonio Cechin é irmão marista, miltante dos movimentos sociais. Jacques Távora Alfonsin é advogado do MST e procurador do Estado do Rio Grande do Sul aposentado.
Eis o artigo.
Acaba de ser posto abaixo pelo poder municipal de São Gabrielum monumento a SãoSepé Tiaraju e 1.500 companheiros mártires. Esse desrespeito aos que souberam dar a vida em favor dos irmãos do Povo Guarani e das próprias Missões Jesuíticas, se insere numa sequência de antecedentes que parecem não ter fim.
Tão logo Sepé Tiaraju e o exército guarani, no ano de 1756, foram chacinados pelos exércitos unidos de Espanha e Portugal, impérios mais fortes do mundo da época, a terra que até então era posse comunitária de todo um povo, teve como sucedânea uma economia de latifúndio. Grandes extensões de campo, denominadas sesmarias, começaram a ser apropriadas, começando pelos próprios oficiais comandantes “vencedores” da guerra guaranítica. Além da terra e das sete lindas cidades missioneiras, havia vários milhões de cabeças de gado no pampa, fruto do trabalho dos índios. Não é por acaso que até os dias de hoje, a cidade de São Gabriel, onde o povo guarani travou as batalhas definitivas, é o coração do latifúndio que é predatório de terra e opressor de gente, um dos exemplos brasileiros mais significativos da urgência em se realizar a reforma agrária.
No ano de 1956, quando se completavam os 200 anos do martírio do herói popular Sepé Tiaraju, surgiu um movimento no Rio Grande com vistas a levantar um monumento em praça pública de Porto Alegre, em honra ao “índio do grito”. A pressão bateu às portas do palácio Piratini, sede do governo do Estado. IldoMeneghetti achou por bem consultar o Instituto Histórico e Geográfico. Esta instituição deu um parecer totalmente contrário dizendo em síntese: “Sepé Tiaraju, herói português não é, porque combateu contra o império de Portugal. Tampouco é herói espanhol pelos mesmos motivos: combateu contra Espanha. Herói brasileiro menos ainda, porque o Brasil nem existia". A conclusão foi contundente: “Quem pariu mateus que o embale. Quando muito Tiaraju talvez possa ser herói jesuítico pois foram os padres que deram origem a essa figura. Eles então que lhe levantem o monumento que quiserem”. Sepé acabava de ser morto mais uma vez. Aos dois impérios que esbulharam as terras do povo guarani, governo e classe dominante do Rio Grande sucediam-lhes em crueldade, sem solução de continuidade.
No ano de 1948, uma equipe de alunos do colégio secundário “Júlio de Castilhos”, filhos de grandes fazendeiros da fronteira, saudosos da vida em suas fazendas do interior, inventaram um movimento gauchista. Adotaram a estância latifundiária dos fins do século XIX e começos do século XX como modelo e padrão do seu tradicionalismo. O MTG que anda espalhadíssimo por aí, não só no Rio Grande mas por todo o Brasil e mesmo fora do país, foi fabricado artificialmente e se consagrou como um tradicionalismo de CTG. É um gauchismo de classe dominante. Um gauchismo ou tradicionalismo às avessas, de cima para baixo. Os pobres do Rio Grande nada tem a ver com ele, nem ontem nem hoje.
O gauchismo do povão que vinha até então, isto é, até esse outro inventado pelos jovens estudantes, vinha sendo pautado, entre muitos, pelos escritores Simões Lopes Neto, Érico Veríssimo e Manoelito de Ornelas. Tem como ato fundante as Missões Jesuíticas com seu mais belo florão, São Sepé Tiaraju, ampliado depois pelos negros quilombolas com a história do Negrinho do Pastoreio e hoje apoiado integralmente pelos movimentos populares, principalmente pelos Sem-Terra e os pequenos agricultores, os operários, os desempregados, os catadores, etc. Infelizmente o gauchismo da classe dominante, o de CTG, continua sendo hegemônico até os dias de hoje.
No ano de 2006, por ocasião dos 250 anos do martírio de São Sepé e dos Missioneiros, os movimentos populares do Rio Grande se uniram e, através de uma lei aprovada por unanimidade pela Assembléia Legislativa, São Sepé Tiaraju foi proclamado herói guarani, missioneiro e rio-grandense. Foi dando concretude a essa lei assinada por todos os deputados e pelo poder executivo do estado que levantamos o Oratório-Monumento em honra de Sepé e companheiros mártires, lutadores em defesa de terra e pátria para o povo guarani. Tivemos o cuidado de erguê-lo na Sanga da Bica, no lugar exato em que tombou Sepé, por ser o primeiro monumento ao santo canonizado pelo povo.
Nesse mesmo ano de 2006, a imprensa registrou através de várias manchetes, a apropriação que os movimentos populares conseguiram fazer da figura histórica de Sepé Tiaraju, contra a classe dominante, especialmente os latifundiários que queriam se adonar do índio mártir e particularmente do seu brado histórico: “Esta terra tem dono pois foi Deus e o Arcanjo São Miguel que no-la deram em herança”. Os latifundiários como anti-povo, tinham e têm em vista a apropriação do “índio do grito” em defesa da propriedade ferrenha das terras como latifúndios, em contraposição com os pobres Sem-Terra que desejam a posse comunitária ou então como pequenas propriedades rurais destinadas à agricultura familiar ecologicamente correta.
A classe hegemônica dos grandes proprietários rurais começa a sentir que está perdendo a guerra ideológica de seu individualismo capitalista para uma economia mais solidária de pequenas propriedades familiares ou comunitária, de associações populares e cooperativas.
Perdida a guerra ideológica contra o povão, só resta o vandalismo até mesmo em cima dos símbolos, como é o caso desse oratório-santuário que acaba de ser demolido. É de se esperar que o Ministério Público do Estado e a Procuradoria da República nesta região do país, pelo menos desta vez, não acrescente à perseguição que movem contra os pobres Sem-Terra, a ignomínia de se omitir diante desse novo massacre, praticado contra a memória de uma das mais contundentes provas históricas de que o sacrifício atual desses pobres não difere em nada daquele que matou São Sepé.
Ressalva do Editor do Blog: Não concordamos com o entrevistado, quando se refere ao movimento Farroupilha, denominando de Revolução. Em vários artigos, aqui postados, deixamos claro que este movimento foi uma revolta, um conflito entre os senhores da Província e os senhores do Império, por interesses nada populares e não projetava nenhuma transformação social. Reforçamos que o livro e a entrevista a que postamos, presta um relevante serviço no descortino da verdadeira história dos rio-grandenses.
Pedido de perdão ao triunfo da humanidade – A importância dos 160 anos das Missões Jesuítico-Guarani (Porto Alegre: Martins Livreiro, 2009) é o título do livro que José Roberto de Oliveira está lançando hoje, em Porto Alegre. Depois de uma profunda pesquisa, ele traz, nesta obra, parte da história esquecida dos povos Guarani e, assim, conta de onde vieram, os caminhos que percorreram, a influência na cultura e no desenvolvimento de vários países do mundo e, finalmente, sua chegada à região missioneira, o apoio dos jesuítas, seu ápice, sua lutas e, por fim, o cotidiano deles hoje. “Não interessava aos poderosos contar uma história que ajudou a formar mundialmente o comunismo e o socialismo”, explica Oliveira.
Na conversa que teve por telefone com a IHU On-Line, José Roberto fala da relação que os Guarani têm como os povos de outras regiões do Rio Grande do Sul e explica que, além de estarem presentes na nossa cultura, os Guarani nos deixaram também uma herança genética. E ainda: há registros da influência dos Guarani entre os povos da Mongólia, do Japão e da Polinésia. “Dos rincões do Rio Grande do Sul, saiu uma experiência que modificou a humanidade”, garante o autor.
José Roberto de Oliveira foi vice-prefeito de São Miguel das Missões e também secretário de turismo da cidade. Ele lança este livro hoje, dia 7 de maio, no Santander Cultural, em Porto Alegre.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Sempre que tratam dos Guarani, eles são relacionados com a região das missões, quando sua história também está fortemente relacionada com outras regiões. O senhor pode nos contar um pouco sobre a relação histórica que os povos das missões têm com outras regiões do estado?
José Roberto de Oliveira – O livro trata de um pedido de perdão aos indígenas e, principalmente, aos que têm uma história missioneira. No início dele, eu trago uma cronologia da história e coloco essa relação dos índios Guarani com outros povos, inclusive de fora do país e em outros continentes. Sabemos que os povos Guarani têm uma formação mongol. Acredito que eles vieram pela Polinésia [1], até por uma série de doenças que só existem nessa região e que os Guarani acabaram trazendo para a América, onde chegaram muito provavelmente a partir do Peru. Eles estão há aproximadamente oito mil anos na Bacia do Rio Amazonas, especialmente no Rio Madeira. Depois, andaram mais para o litoral brasileiro e pelo Pantanal e foram descendo até o Rio Grande do Sul. Aqui, entraram pelo Rio Uruguai e foram para o Ibicuí, Jacuí, tomando grande parte do estado. Os jesuítas entraram no Rio Grande do Sul efetivamente em 1626 e começaram todo um processo de construção de reduções. Nesse primeiro período, eles foram perseguidos pelos bandeirantes. Com isso, um grupo de 300 mil Guarani foi levado para diversas áreas do país como escravo em lavouras. Assim, foram expulsos pela primeira vez do Rio Grande do Sul. Essa fase terminou em 1638.
Então, eles saíram da Mongólia há 20 mil anos, e passaram pelo Japão – esta é uma tese que levanto, pois muitas palavras do japonês são as mesmas do Guarani, como, por exemplo, bambu, principal elemento guarani. Em relação ao alfabeto mundial, falta apenas uma letra nos alfabetos guarani e no japonês, que é a letra R. Vários estudos falam desse parentesco. Seguiram depois pela Polinésia, de onde trouxeram alimentos como a mandioca. No Rio Grande do Sul, receberam os jesuítas, começaram a viver reducionalmente e, então, foram atacados pelos bandeirantes, virando escravos em São Paulo. Com isso, ficaram 45 anos fora do Rio Grande do Sul, vivendo na Mesopotâmia, entre o Rio Uruguai e o Rio Paraná, onde hoje fica a região de Missiones e Corrientes na Argentina. Depois, eles voltaram, pois em 1680 Portugal fundou a Colônia do Sacramento do outro lado do Rio da Prata. Com esses movimentos, os jesuítas e Guarani voltaram para o Rio Grande do Sul e fundaram os Sete Povos das Missões, ingressando no grande período.
No segundo período missioneiro, que inicia em 1682, começa uma certa plenitude do que foi o processo jesuítico-guarani, num modelo de alta produção, exportação. Diariamente, saíam carretas levando couro para Buenos Aires, erva mate, imóveis, instrumentos musicais, além de elementos fundidos (a primeira fundição de aço foi feita numa das reduções do lado brasileiro, em São João Batista). Foi um momento extraordinário. Voltaire [2] chamou isso de triunfo da humanidade, quando um povo vivia num sistema integrado (ninguém era dono da terra), de forma fraternal, exatamente a mensagem que Cristo nos enviou.
Escritores como Montesquieu [3] aprofundaram esse tema especialmente em 1700, quando relatam o verdadeiro milagre que estava acontecendo na humanidade. Todavia, esses mesmos escritos não serviam aos reis da Europa, pois eles eram os grandes donos da terra. Os jesuítas estavam começando a criar uma ideia de que as terras deveriam ser divididas e de que o povo podia se sentir dono de tudo. Depois, isso acabou se efletindo nos escritos de Paul Lafargue [4], que escreveu profundamente sobre a questão missioneira. Essas coisas todas acabaram refletindo poderosamente em nível internacional e delas jamais nós, gaúchos e brasileiros, soubemos anteriormente. Por isso, no livro trago essa questão de que nós tivemos uma das mais extraordinárias experiências. Só depois de algumas visitas à Europa, consegui reunir um número maior de documentos e importantes informações, relatando guerras, batalhas e outros acontecimentos.
Assim, consigo mostrar que o povo Guarani continua vivo ainda, especialmente nos pobres das vilas e dos bairros do Rio Grande do Sul e do Brasil. Muitos e muitos gaúchos, você vê pelos rostos, são de origem Guarani, como também de Charruas, de Minuanos e outras nações indígenas que viviam perfeitamente antes do descobrimento. Há um reflexo muito poderoso na questão da genética. O gaúcho tem como base fundamental o Guarani, pois este forma o povo nativo do Rio Grande do Sul.
IHU On-Line – Por que a história ocorrida nas Missões ficou por tanto tempo esquecida?
José Roberto de Oliveira – Porque a história não interessava aos ganhadores, ou seja, aos portugueses, que sempre comandaram o processo de divisão do Rio Grande do Sul e tinham interesse em manter as fronteiras do estado onde está hoje, no Rio Uruguai. Ela é uma história contada e formada por espanhóis. Isso porque o mundo espanhol dominou aquela nossa região missioneira pelo menos até 1828. A Unesco, ao determinar que as missões são patrimônio mundial, não fez isso pela sua arquitetura, mas pela experiência única vivida naquela região por um conjunto de 30 povos que fez algo extraordinário. Todavia, muitos historiadores escondem isso. Ainda hoje, há gente que diz que o povo das missões era diferente, que tinha formação espanhola e por isso, hoje, acha que esta história não deve ser contada como uma história gaúcha.
IHU On-Line – Como a história e a cultura dos povos Guarani, que viviam na região das missões, estão presentes na cultura e na identidade do gaúcho atual?
José Roberto de Oliveira – Os primeiros a trabalharem com o gado do Rio Grande do Sul foram os Guarani. Os jesuítas trouxeram esse gado em 1634 e acabaram profissionalizando um conjunto bastante grande de povos Guarani e Charruas. Toda essa questão pecuária do estado está presente. Outra é a questão do uso da erva mate. O chimarrão era um instrumento dos Guarani e com a presença dos jesuítas foi socializado, inclusive internamente dentro das tribos. Depois, acabaram levando isso para o conjunto da sociedade. O hábito de se tomar chimarrão tem ligação direta com o povo Guarani. Obviamente, há ainda outras expressões, como “tchê”, que para os Guarani significa “meu amigo”. Por isso, geralmente, você só diz “tchê” para alguém que você conhece. O nosso jeito diferente de dizer algumas coisas vem dessa nação Guarani. Uma questão fundamental também é a herança genética do povo, que hoje está na cara de nossa população.
Os pobres do Rio Grande do Sul ou são de origem negra ou de origem indígena. Obviamente, existe toda uma explicação antropológica que explica isso. Além disso, temos três santos no estado, canonizados pela Igreja Católica: Santo Roque Gonzalez [5], Afonso Rodrigues [6] e João del Castillo [7]. No entanto, são ignorados. A canonização deles se deveu a uma cura de câncer que foi acompanhada por médicos. Desse modo, foram considerados três santos missioneiros. E ainda existe a questão da música, como o chamamé [8]. Lembrando-se que a província jesuítica começava no Paraguai, abrangia toda a grande região da Argentina (Missiones, Corrientes e Entre Rios) e entrava no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. O reflexo mundial disso está revelado nos livros de autores como Voltaire. Isso é algo fantástico! Dos rincões do Rio Grande do Sul, saiu uma experiência que modificou a humanidade, especialmente depois dos escritos dos jesuítas. Em 2009, comemoramos os 400 anos das Missões. É um ano muito especial para quem vive na América. Trata-se de um momento de difusão. Que Deus nos ajude que, com esse livro, com o pedido de perdão ao triunfo da humanidade, possamos divulgar para a sociedade a história que deletamos. Uma história que estava esquecida porque não interessava aos poderosos contá-la. Uma história que ajudou a formar mundialmente o comunismo e o socialismo. Também não interessava contar que a presença castelhana foi tão importante no estado e nos faz ser do jeito que somos. Ainda hoje, depois das reportagens que serão feitas revelando os feitos dos povos das missões, certamente reaparecerão os historiadores com formação portuguesa dizendo que os missioneiros não são do mundo gaúcho.
IHU On-Line – Que legado, em sua opinião, Sepé Tiaraju deixou-nos?
José Roberto de Oliveira – Acho que ele representa esta coisa do peleador, de alguém que luta, o que tem muito a cara do gaúcho. Nós sempre lutamos por tanta coisa e, desde a Revolução Farroupilha, temos um nó na garganta, pois não sabemos ao certo para quem reclamar. Isso está muito presente ainda hoje. Os grandes movimentos sociais do país, como o MST, buscam no Sepé Tiaraju a coragem para pelear contra essas questões, para que realmente alcancem um patamar maior de consideração nacionalmente. Outros países, como Argentina, Chile e Bolívia, usam Tiaraju como referência. O Irmão Cechin está inclusive fazendo um trabalho pela canonização de Sepé Tiaraju, pois o povo do interior do Rio Grande do Sul fez isso e, então, cabe à Igreja oficializar. Essas são as heranças do Sepé. Ele é nosso ícone.
IHU On-Line – Sépe Tiaraju sonhou com a “Terra sem Males". Como o senhor vê essa questão hoje?
José Roberto de Oliveira – A "Terra sem Males" não é só de Sepé, mas sim é a tese e o espírito dos Guarani. De um milhão e quatros mil Guarani que viviam na época do descobrimento, hoje, no Rio Grande do Sul, existem menos de dois mil. Eles sempre foram um povo espiritual e sempre falaram da busca pela Terra sem Males, o que sempre esteve no centro da sua cultura. Esta nação e este território (físico e espiritual) da Terra sem Males têm duas visões: a de uma terra em que todos vivessem bem, de forma fraternal, mas também a de uma terra espiritual, em que cada um tivesse um coração sem males. Esta tese é uma coisa absolutamente maravilhosa e compõe, ainda hoje, o centro da espiritualidade dos povos Guarani e missioneiro. Nenhum deles quer ser rico. Formam o povo das nossas vilas e bairros, que deseja ter uma casa e uma comida sem males, além de acreditar em Deus.
Notas:
[1] A Polinésia é um conjunto de ilhas no Oceano Pacífico.
[2] François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire, foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis, inclusive liberdade religiosa e livre comércio. Foi um defensor aberto da reforma social e frequentemente usava suas obras para criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu tempo.
[3] Charles-Louis de Secondat, também conhecido como Charles de Montesquieu, foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua Teoria da Separação dos Poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais. Revelou-se um crítico severo e irônico da monarquia absolutista decadente, bem como do clero católico. Adquiriu sólidos conhecimentos humanísticos e jurídicos, mas também frequentou em Paris os círculos da boêmia literária.
[4] Paul Lafargue foi um revolucionário jornalista socialista francês, escritor e ativista político. Foi genro de Karl Marx, casando-se com sua segunda filha Laura. Seu mais conhecido trabalho foi O direito à preguiça, publicado no jornal socialista L'Égalité.
[5] Roque Gonzales de Santa Cruz foi um religioso natural do Paraguai que entrou na história do Brasil meridional ao tentar disseminar a religião católica entre os povos originais das terras do oeste do Rio Grande do Sul. Foi um dos primeiros evangelizadores nas terras do Sul do Brasil.
[6] Santo Afonso Rodrigues foi um sacerdote jesuíta espanhol morto como mártir na recém-fundada redução de Caaró, no Rio Grande do Sul. Em 1 de novembro de 1628, juntamente com o padre Roque Gonzales de Santa Cruz, fundou a redução de Caaró, onde recebeu a morte poucos dias depois, em 15 de novembro, por mãos de índios contrários à atuação jesuíta.
[7] Juan del Castillo (ou João de Castilho) foi um sacerdote jesuíta e missionário, e um mártir da Igreja Católica. Foi matirizado por ordem do cacique Nheçu em 17 de novembro de 1628, o mesmo destino que tiveram os padres Roque Gonzales de Santa Cruz e Afonso Rodrigues e o cacique Adauto.
[8] Chamamé é um gênero musical tradicional da província de Corrientes, Argentina, apreciado também no Paraguai e em vários locais do Brasil (isto é, nos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul) e em outros países. Em sua origem se integram raízes culturais dos povos indígenas Guarani, dos exploradores espanhóis e até de imigrantes italianos.
Nos anos 1600, três grandes comunidades nativas dividiam-se os atuais territórios do Brasil Meridional. Na Serra e no Planalto viviam povos de língua jê, especializados na caça, pesca e coleta florestas. Os campos abertos eram dominados pelos pampianos, hábeis cavaleiros após a introdução do gado vacum e cavalar nessas regiões pelos europeus.
Os guaranis pertenciam à importante civilização tupi-guarani que colonizara boa parte da América do Sul, após dominarem a horticultura de floresta tropical e sub-tropical, na Amazônia Central, há mais de dois mil anos. Eles foram os últimos chegados ao atual Rio Grande do Sul.
A aldeias tupi-guaranis, com uns 150 habitantes, tinha de três a cinco residências coletivas. O chefe da aldeia e das moradias comunitárias possuía prestígio comunitário, mas nenhum poder de fato sobre a comunidade aldeã. A família celular independente era a unidade de produção e consumo de base dessa micro-sociedade.
Cada três a cinco anos, as aldeias tupi-guaranis transferiam de local, devido ao esgotamento da caça e da coleta e à degradação das condições higiênicas dos terrenos habitados e de suas proximidades. Comumente as aldeias super-povoadas dividiam-se durante as transferências periódicas, dando origem a uma nova comunidade independente.
Minha aldeia, meu mundo
O mundo tupi-guarani esgotava-se nos quadros da comunidade aldeão, formada em geral por famílias aparentadas residindo nas moradias coletivas. As aldeias eram independentes, já que supriam as necessidades de subsistência dos moradores sem a necessidade de realizarem trocas econômicas.
Os aldeões dispunham comunitariamente dos territórios controlados pela aldeia, desconhecendo qualquer forma de apropriação privada da terra. Reinava grande solidariedade entre os produtores, sobretudo da mesma moradia. Alguns bens eram do domínio dos moradores da residência – amambaé. Armas, utensílios, ferramentas, etc. pertenciam aos aldeões, individualmente – abambaé.
A produção tupi-guarani assentava-se na divisão sexual do trabalho. O homem caçava, pescava, guerreava, participava da construção da moradia coletiva, abria as clareiras para as plantações, em geral associado aos companheiros de moradia, etc. A divisão sexual do trabalho tupi-guarani sobrecarregava as mulheres, responsáveis pela coleta, pelo transporte, pelo cuidado dos filhos, pelo preparo dos alimentos, etc. As mulheres eram responsáveis pelas plantações.
O produto-base da horticultura tupi-guarani era a mandioca brava, de alto poder calórico e escassa riqueza protéica. Os tupi-guaranis não criavam animais para o abate. Nos meses de escassez de caça e de coleta, careciam penosamente de proteínas, o que parece ter contribuído à prática do abate e consumo cerimonial dos inimigos.
Os tupi-guaranis partiram do Médio Amazonas para colonizar boa parte da América do Sul. O braço guarani avançou ocupando as florestas em galeria dos afluentes da margem direita do Amazonas – Bolívia, Paraguai, Uruguai, sul do Brasil, etc. O braço tupinambá despontou na foz do Amazonas e ocupou grande parte da então exuberante Mata Atlântica do litoral.
II. Missões – Um novo mundo guarani
Em 1494, em Tordesilhas, as coroas portuguesa e espanhola dividiram os mundos descobertos e a descobrir. Na América do Sul, a coroa portuguesa enriqueceu-se distribuindo graciosamente sesmarias – treze mil hectares – aos homens bons com cabedais suficientes para povoá-las com o braço americano e africano escravizado.
Os colonos espanhóis enricaram-se empregando o trabalho americano nas fabulosas minas de prata dos Andes. Privilegiados na partilha de Tordesilhas, faltavam-lhes entretanto capitais para ocupar e explorar diretamente as imensas regiões do continente que lhe couberam na exótica apropriação americana.
A administração espanhola temia que os portugueses avançassem sobre os territórios não ocupados, aproximando-se das cobiças minas andinas, fontes de ingentes riquezas. As missões constituíram inteligente projeto de ocupação, defesa e incorporação de imensas regiões das Américas ao mundo colonial espanhol, praticamente sem investimentos.
A Coroa espanhola propunha que as comunidades nativas dispersas se reunissem em pueblos estáveis, sob a administração de jesuítas, franciscanos, dominicanos, etc. Os pueblos dependeriam diretamente do rei de Espanha, escapando portanto das pesadíssimas exigências em tributos e em trabalho dos insaciáveis proprietários coloniais.
Impasses e solução
À exclusão dos povos andinos, não houve comunidade nativa que mantivesse os tupi-guaranis longe dos territórios florestais do litoral e das margens dos rios e lagoas que conquistavam para assentar suas roças horticultoras. A aldeia e as moradias comunitárias tupi-guaranis formavam coesas e poderosas equipes de produtores de alimentos e de guerreiros.
Por razões compreensíveis, os guaranis acolheram a opção missioneira. Após uma expansão territorial pluri-centenar vitoriosa, havia um século que as comunidades tupi-guaranis perdiam inexoravelmente as terras e a liberdade para a frente de expansão colonial ibérica.
O embate americano entre os nativos guaranis e os colonizadores ibéricos dava-se entre, por um lado, a comunidade doméstica nativa, ignorantes das diferenças de classe e da organização do Estado, estruturada em aldeias autárquicas e, por outro, Portugal e Espanha, Estados classistas, vanguardas do mercantilismo, inseridos na divisão mundial do trabalho. Comumente a aldeia tupi-guarani isolada apoiava o europeu no combate à comunidade vizinha sua inimiga.
Modo de produção missioneiro
A proposta das missões retirara as comunidades tupi-guaranis da perplexidade e do desalento em que haviam sido lançadas pelas derrotas incessantes diante dos vorazes colonizadores ibéricos, ao garantir-lhes segurança relativa diante dos encomenderos espanhóis e dos escravizadores paulistas.
Sobretudo, as reduções asseguraram melhorias substanciais na alimentação, na moradia, no vestuário, na segurança, etc. às comunidades americanas, ao ensejarem a transição das formas de produção doméstica pré-classista guaranis à sociedade missioneira, estatal, comunitária, complexa, tendencialmente não-classistas.
Hábeis horticultores, os guaranis aclimataram com facilidade as técnicas, as ferramentas e as plantas da agricultura européia. Incorporaram ao quotidiano produtivo as ferramentas de ferro, o arado simples, a tração animal, a adubação, a fruticultura. Com a crescente importância da agricultura, essas práticas, essencialmente das mulheres na sociedade guarani, tornaram-se tarefas masculinas, realizadas com o apoio feminino, nas Missões.
Tecer redes e faixas de algodão era tarefa feminina tupi-guarani. Liberadas parcialmente das obrigações horticultoras, as mulheres assumiram novas responsabilidades na fiação e na tecelagem do algodão e da lã, produzindo vestimentas e cobertores que facilitaram a ocupação de regiões golpeadas duramente pelos frios invernais, como o nordeste do atual Rio Grande do Sul.
Cerâmica e olarias
O conhecimento oleiro guarani desdobrou-se nas práticas ceramistas missioneiras que produziam os materiais com os quais se levantavam e telhavam os celeiros, os estábulos, os galões, as igrejas, as moradias, as oficinas, etc. Novas residências com diversos aposentos unifamiliares recebiam os habitantes das antigas moradias coletivas.
A divisão sexual e familiar do trabalho, apoiada na cooperação simples entre os produtores das residências coletivas e da aldeia, ampliou-se, originando práticas produtivas realizadas comumente por artífices especializados. As reduções possuíam de trinta a quarenta oficinas: ferraria; marcenaria; olaria; sapataria; tecelagem; tornearia, etc.
Os guaranis desconheciam completamente a criação animal. Em verdade, as Américas desconheciam o gado vacum, cavalar, muar, etc. Sobretudo, as missões introduziram-nos nas práticas criatórias vacuns, cavalares, caprinas, ovinas, etc., que forneciam com segurança e relativa fartura os recursos protéicos que as comunidades nativas tinham, em abundância, apenas episodicamente.
Realizada muitas vezes em ervais distantes, a extração e produção da erva-mate tinha grande importância para as missões. Diariamente, distribuía-se uma cuia de erva-mate por família missioneira. A erva entrava como equivalente nas trocas inter-missões e era exportada, em grandes carretas de duas rodas, para regiões, não raro, muito distantes – Buenos Aires, Santa-Fé, Chile, Peru, etc.
Contabilidade social
O missioneiro recebia pequena parcela da terra comunal para sua exploração familiar. Porém, trabalhava nas plantações comunitárias nas segundas e sábados. A produção agrícola e pastoril comunitária financiava a subsistência dos trabalhadores especializados – administradores, artífices, ervateiros, vaqueiros, etc. – ou improdutivos velhos, doentes, etc.
No contexto de técnicas e métodos novos e tradicionais, o desenvolvimento da produção missioneira comunitária [tupambaé] e familiar [abambaé] permitiu divisão do trabalho e, conseqüentemente, produtividade social muito superiores às da comunidade guarani tradicional. O que certamente ensejou o sustento de uma comunidade maior, com maior esperança de vida.
Grande parte do consumo familiar era produzida pela própria família. A administração central de cada missão – cabildo –, monopólio dos caciques, realizava a equalização das trocas internas entre os agentes das diversas esferas produtivas. A contabilidade central substituía a mercantilização como meio de troca dos mais diversos produtos, que não se transformavam em mercadorias, dominando seu valor de uso e não de troca.
A maior parte do produto excedente, permitido pela maior produtividade do trabalho, era reinvestida na comunidade. O caráter progressista do novo modo de organização e de produção aumentava o prestígio dos seus vetores ideológicos — os jesuítas e o cristianismo – e a coesão social missioneira.
III. Das Missões do Tape aos Sete Povos
De 1610 a 1634, os jesuítas espanhóis fundaram as províncias guaraníticas do Paraguai: Itatim, Guairá e Uruguai. As missões do Tape faziam parte da província do Uruguai. Elas tinham dezesseis pueblos e localizavam-se no noroeste sul-rio-grandense atual, no Planalto e nos vales do Jacuí, Ibicuí e Ijuí.
Porém, muito logo, as reduções do Tapes foram atacados por mamelucos paulistas, à procura de nativos para serem escravizados, devido à falta de braços africanos cativos, sobretudo desde a ocupação holandesa dos portos negreiros portugueses da costa da África. Nesse então, a casa real espanhola reinava igualmente sobre Portugal [Unificação Ibérica 1580 – 1640].
Talvez vinte mil missioneiros tenham sido arrastados para as capitanias portuguesas como cativos. Antes da viagem, matavam-se os caciques e os guerreiros mais combativos, para que não organizassem revoltas. Os velhos e as crianças eram executados ou abandonados, para que não atrasassem a marcha terrível.
Em 25 de março 1641, expedição escravizadora de 3.400 paulistas, mamelucos e tupis foi completamente derrotada nas barrancas do rio M´Bororé, afluente do rio Uruguai, por quatro mil missioneiros portanto as armas tradicionais, arcabuzes e canhões de bambus gigantes. Com a guerra de libertação de Portugal, a Coroa espanhola permitira que os missioneiros se armassem contra os seus antigos súditos portugueses.
Vacarias missioneiras
Entretanto, em 1636-8, para protegerem-se dos ataques, os missioneiros do Tape transferiram-se para a margem direita do Uruguai, abandonando os atuais territórios do Rio Grande do Sul para se estabelecerem nas regiões da atual província argentina de Misiones e no sudoeste do Paraguai. Em 1634, cada missão recebera umas cem cabeças de gado para formar rebanhos. Os animais foram deixados nas margens meridionais do Jacuí, para que se reproduzissem.
Como as condições ambientais da região – pampa – eram excelentes, as manadas de gado reproduziram-se exuberantemente e expandiram-se para o litoral, à busca de pastagens, alcançando o Atlântico e avançando para o sul, dando origem às vacarias da região – campos de gado selvagem. Os vaqueiros missioneiros atravessavam periodicamente o rio Uruguai para levar rebanhos das vacarias para as estâncias, formadas entre o rio Jacuí e a lagoa dos Patos.
As estâncias eram áreas menores onde os gados eram confinados para que se realizassem periodicamente rodeios. As invernadas eram pequenas estâncias, próximas às missões. Sobretudo os acidentes geográficos e valas com plantações de espinheiros e outras barreiras mantinham os gados nas estâncias. Posteiros missioneiros controlavam as passagens por onde os gados escapavam.
Os campos do atual Rio Grande do Sul povoados pelos gados selvagens formavam uma enorme hacienda trilhada continuamente pelos vaqueiros missioneiros à busca dos animais. As vacarias do Mar, nas pastagens que iam da margem direita do rio Camaquã até o rio Negro, eram mantidas como uma espécie de reserva estratégica.[N1]
Sacramento – os portugueses no Prata
Durante a Unificação Ibérica [1580-1640], os lusitanos desenvolveram rentável atividade comercial na bacia do Prata, contrabandeando trabalhadores escravizados e produtos manufaturados, sobretudo, ingleses, em Buenos Aires, por couros e a prata andina. As autoridades espanholas fechavam os olhos para essa atividade. Em 1640, com a guerra de independência lusitana, o mercado platino fechou-se inexoravelmente para os lusitanos.
Com a crise do comércio açucareiro, a coroa lusitana procurou novos negócios, entre eles, a ocupação do norte de seus possessões americanas. No sul da América, em janeiro de 1680, os lusitanos fundaram a colônia do Santíssimo Sacramento, na deserta margem oriental do Prata, diante de Buenos Aires, em territórios pertencentes à Espanha, segundo o Tratado de Tordesilhas, para prosseguir o rendoso comércio interrompido quarenta anos antes.
A coroa espanhola respondeu à intrusão lusitana cercando e conquistando, em agosto, a cidadela, com a ajuda de mil milicianos missioneiros. No ano seguinte, Sacramento foi devolvida, diplomaticamente, aos lusitanos, para tornar-se, então, até 1777, o grande pomo da discórdia entre as coroas ibéricos no sul da América.
Sete Povos das Missões
Diante da nova situação, a administração espanhola ordenou que os missioneiros atravessaram novamente o rio Uruguai para fundar, desde 1682, novas reduções no noroeste dos atuais territórios sulinos. Os Sete Povos da Banda Oriental do rio Uruguai eram formados pelas reduções de São Miguel, São Nicolau, São Borja, São Luiz Gonzaga, São Lourenço, São João Batista, Santo Ângelo.
A nova ocupação estendeu o controle, mais ou menos legal e efetivo, dos Sete Povos sobre grande parte dos atuais territórios sul-rio-grandenses e uruguaios. No Planalto, os gados missioneiros ocuparam os campos abertos e os ervateiros missioneiros exploraram parte das matas da região. Nos pampas, já em 1683, os vaqueiros de São Miguel chegaram até os a atual cidade de Bagé, próxima da fronteira atual com o Uruguai, de onde se retiraram devido à oposição dos nativos locais.
Com administração própria, os Sete Povos permitiam melhor gestão dos recursos pastoris, agrícolas, ervateiros da região e uma melhor proteção desse flanco do Vice-Reinado do Peru, ameaçado por Sacramento. Entretanto, cada missão possuía suas terras, seus gados e administrava-se independentemente. Produzindo em geral os mesmos produtos, eram muito limitadas as trocas e, portanto, a inter-dependência dos Sete Povos.
No início do século 18, os trinta povos das Missões Ocidentais e Orientais do rio Uruguai possuíam uns 150 mil habitantes. A população dos Sete Povos seria de 30 mil missioneiros, sobretudo guaranis, ainda que ali vivessem charruas, minuanos e outras comunidades. Uma população considerável. Na época, Portugal apenas ultrapassaria um milhão e meio de habitantes.
Missão cumprida
As Missões protegiam essas regiões da expansão lusitana, participando ativamente dos ataques aos portugueses, o que as debilitava fortemente, já que os milicianos missioneiros eram, nos fatos, camponeses, vaqueiros, artífices, etc., que tinham que abandonar suas funções, para ir à guerra. As milícias missioneiras protegiam também as povoações espanholas dos ataques de nativos ´selvagens´. Eram verdadeiras guarda pretoriana contra eventuais insubordinações das elites criollas às autoridades coloniais.
As Missões incorporavam também economicamente esses vastos territórios da América do Sul ao espaço colonial hispânico, já que exportavam diversos produtos – couros, mulas, erva-mate, etc. – para pagar os impostos de capitação e adquirir o que não podiam ou não queriam produzir na região.
O crescente esgotamento da produção mineradora andina e o desenvolvimento da importância da bacia do Prata para as trocas comerciais e as comunicações selaram a sorte dos Sete Povos. O crescente desenvolvimento semi-autônomo de fato de uma verdadeira nação guarani-missioneira desagradava mais e mais as classes dominantes crioulas e a Coroa espanhola.
IV. O Tratado de Madrid e a Guerra Guaranítica
Em janeiro de 1750, em Madri[N2], as coroas ibéricas pactuaram solução pacífica global das desavenças territoriais americanas. Para a América Meridional, acordou-se trocar a colônia de Sacramento pelos territórios dos Sete Povos. O tratado garantia à Coroa espanhola o domínio pleno do estuário do Prata às custas das populações missioneiras, expropriadas de suas vilas, moradias, oficinas, igrejas, terras, fazendas, rebanhos e ervais.
O Tratado ordenava: “Das povoações ou aldeias que cede sua Majestade Católica na margem oriental do rio Uruguai, sairão os missionários com todos os móveis e efeitos, levando consigo os índios para os aldear em outras terras de Espanha [...]; entregar-se-ão as povoações à Coroa de Portugal, com todas as suas casas, igrejas e edifícios e a propriedade e posse do terreno [...].”
Os missioneiros deviam abandonar as terras natais e localizaram-se, a mais de seiscentos quilômetros, na então semi-deserta Banda dos Charruas [Uruguai]. Como a transferência era decisão que os ibéricos não esperavam que os missioneiros obedecessem de livre-vontade, em 1751, tratado secreto acertou o uso conjunto da força militar luso-espanhol contra a previsível resistência missioneira.
Para ocupar as Missões, a Coroa portuguesa mandou vir camponeses sem ou com pouca terra das ilhas dos Açores e da Madeira. Os casais assentados receberiam 272 hectares de terra, ferramentas, sementes, dinheiro, etc., tudo gratuitamente. Até 1754, três mil ilhotas associaram-se aos 1.500 povoadores luso-brasileiros da região. Esperava-se que os camponeses produzissem braços e meios de subsistência para as tropas coloniais.
Guerra guaranítica
O general-de-batalha Gomes Freire de Andrade, comissário português da expedição demarcadora, ao chegar ao Rio Grande, concedeu sesmarias no Chauí, em Viamão, em Cima da Serra, no Vale do rio dos Sinos, no Jacuí, no Caí, no rio das Antas, na Vacaria dos Pinhais, incentivando ocupação latifundiária sesmeira dos territórios sulinos pelos luso-brasileiros.
Em setembro de 1752, a expedição luso-espanhola –astrônomos, diplomatas, engenheiros, geógrafos, militares, etc., – encontrava-se em Castilhos Grande e, em inícios de outubro, assentava o primeiro marco divisório. Porém, muito logo, seria barrada por tropas missioneiras comandadas por José Tiaraju – Sepé –, alferes real de São Miguel, na coxilha de São Sebastião, no atual município de Bagé, já em territórios missioneiros. As tropas gerais missioneiras encontravam-se sob o comando de Nicolau Neenguiru, corregedor de Concepción, na margem ocidental do Uruguai.
Em 23 de fevereiro de 1754, uns trezentos missioneiros atacaram por quatro horas a apenas fundada tranqueira de Rio Pardo, fronteira oeste luso-brasileira, no vale do Jacuí. Teriam morrido 22 atacantes e de três a quatorze defensores. Em 28 de abril, tropas unificadas dos Sete Povos atacam, novamente, com pouquíssima decisão, o forte de Rio Pardo, que reforçara suas defesas. Nos inícios dos combates morreu Alexandro Mbaruari, comandante militar de São Miguel, chefe geral das tropas missioneiras.
Em 1574, um poderoso exército português, com mais de mil homens em armas, partiu de Rio Grande, no litoral rio-grandense, para Rio Pardo, onde chega em agosto. As tropas espanholas também chegam à região. Porém, devido ao forte inverno e à resistência missioneira, em novembro de 1754, os exércitos ibéricos retiram-se da região, após pactuarem armistícios separados com os representantes dos pueblos que, nos fatos, ampliavam as terras sob controle lusitano.
Finalmente, em 16 de janeiro de 1756, um exército hispano-português de 2.600 homens, poderosamente armado e artilhado, reuniu-se nas cabeceiras do rio Negro, nos atuais territórios uruguaios, de onde partiu para as Missões. Ao entrarem em terras missioneiros, as tropas ibéricas sofreram diversas emboscadas. Porém, em inícios de fevereiro, caía em combate Sepé Tiaraju, comandante das tropas de São Miguel.
A morte de Sepé
Em 7 de fevereiro, os missioneiros armam mais uma emboscada às tropas ibéricas, ao deixarem, como isca, uma ponta de gado à vista dos invasores. Cavaleiros missioneiros atacaram céleres e lancearam mortalmente dois peões portugueses lusitanos que haviam cruzado o arroio Guacacay para reunir, abater e carnear os animais.
Talvez prevenidos contra a tática utilizada anteriormente, às cinco e meia da tarde, o comandante Andonaégui enviou trezentos soldados espanhóis e portugueses, em dois esquadrões, em perseguição dos setenta a oitenta cavaleiros missioneiros, reunidos próximos a um capão.
Na perseguição, a montaria de Sepé Tiaraju teria tropeçado em um desnível do terreno, lançando o cavaleiro ferido ao solo. Aproveitando a oportunidade, um peão português quebrou uma lança contra o chefe militar missioneiro. No combate, os espanhóis tiveram dois mortos e os missioneiros, oito.
Em São Gabriel
A documentação é divergente e imprecisa sobre os acontecimentos posteriores. Possivelmente capturado e identificado, devido ao livro de orações e cartas que levava consigo, Sepé teria sido torturado por seus algozes – “queimado com pólvora ainda quando aspirando” e martirizado “de outras maneiras”.
A seguir, Sepé teria sido justiçado com um tiro de pistola, pelo próprio governador de Montevidéu, talvez para conquistar a honra da morte de um chefe missioneiro. O corpo de Sepé, decapitado, teria sido recuperado pelas tropas missioneiras, para enterramento de fortuna. Acredita-se que o chefe missioneiro morreu lutando em algum ponto da cidade de São Gabriel.
A grande derrota
As razões da derrota missioneira foram sobretudo políticas. Os jesuítas tentaram impedir diplomaticamente e, a seguir, retardar, a implementação do tratado, esperando sua anulação. Nos fatos, terminaram dividindo-se quanto à implementação das ordens emanadas pela Coroa espanhola.
Os superiores da Companhia de Jesus apoiaram o abandono das Missões, entregando, em maio de 1753, os Sete Povos às autoridades civis e religiosas de Buenos Aires. Entretanto, alguns jesuítas permaneceram, até o fim, nas missões, em contato com os caciques missioneiros.
Com a defecção jesuítica, a resistência encontrou-se nas mãos dos administradores dos Sete Povos que se dividiram igualmente sobre o caminho a seguir. Eles mantiveram sempre a esperança de negociar a manutenção dos Sete Povos, procurando preservar ciosamente as relações com Espanha. Durante todos os combates, as tropas missioneiras mantiveram ação militar essencialmente defensiva.
Apesar de possuírem uma enorme homogeneidade de civilização, os Trinta Povos jamais constituíram entidade coerida por laços sociais, econômicos e políticos necessários. Nos fatos, constituíam verdadeiras autarquias, mantendo frágeis laços essenciais entre si. A desorganização dos Sete Povos foi também uma ação ibérica contra a tendência, jamais realizada, de formação de uma nação guarani-missioneira no sul da América.
O Fim da República
Os povos da margem direita do rio Uruguai parecem não ter compreendido que também eram atingidos pelo Tratado de Madri, que se referia explicitamente às Missões da margem esquerda do rio. Sobretudo diante da defecção e neutralização do comando jesuítico unificado, jamais participaram efetivamente da resistência militar, que se restringiu às milícias dos Sete Povos.
Vivendo a mesma autonomia sócio-econômica, os Sete Povos jamais unificaram e centralizaram ferreamente a resistência ao avanço ibérico, procurando comumente pactuar acordos em separado e fazer frente aos invasores apenas quando penetraram em suas terras. Jamais houve, nos fatos, a consciência plena de uma civilização guarani-missioneira reunindo os Trinta Povos.
Em 10 de fevereiro, em Caaibaté, 1.800 missioneiros, armados de lanças, arcos e flechas e peças de artilharia de bambu forradas de couro tentaram abrir negociações e impedir o avanço dos ibéricos que contavam com mais de 3.700 combatentes, poderosamente armados e fortemente artilhados.
Apesar das oposições históricas, as tropas dos Sete Povos teriam recebido o apoio de guerreiros charruas, minuanos, guenoas e outras comunidades nativas regionais, segundo parece chamados ao desconhecimento dos jesuítas.
Rejeitando o pedido de negociação, os canhões portugueses e espanhóis abriram fogo em forma coordenada, desorganizando as desmotivadas milícias missioneiras. A seguir, iniciou-se o massacre de talvez mil guaranis, perseguidos e executados. Em 16 de maio de 1756, após pequenos confrontos, as tropas ibéricas entravam em São Miguel. A República dos Sete Povos fora derrotada.
V. A Consolidação do Latifúndio Pastoril Sulino
Missões – a primeira agonia
Em 1757, devido à demora do prosseguimento da demarcação e à não evacuação dos moradores dos Sete Povos, as tropas lusitanas, longe de suas linhas de defesa, recuaram para Rio Pardo, transferindo alguns milhares de missioneiros para Rio Pardo, Cachoeira do Sul e Gravataí, o que causou grande despovoamento nas Missões.
Assim, os portugueses debilitavam as forças militares hispânicas e minoravam a carestia de trabalhadores nas fazendas, plantações e vilas lusitanas. A seguir, os missioneiros foram obrigados a adotar a língua e nomes portugueses, dissolvendo-se na população subalternizada do Rio Grande do Sul. Essa enorme contribuição ao povoamento original do Rio Grande é menosprezada pela historiografia tradicional.
Derrotados, milhares de missioneiros migraram para a Banda Oriental – Uruguai –, onde se empregaram nos campos, como peões, e em Montevidéu, como chacreiros, artífices, etc., guaranitizando profundamente aquela região. Missioneiros incorporaram-se igualmente aos toldos charruas e minuanos do pampa uruguaio.
Em 12 de fevereiro[ST3] de 1761, o Tratado de El Pardo anulou o Tratado de Madrid, mantendo as condições anteriores, ou seja, Sacramento, em mãos portuguesas, e as Missões, sob domínio espanhol, e administração militar. Finalmente, os jesuítas foram expulsos das colônias hispano-americanos, em 1767.
Perda e Restauração
O confronto da França, em união com a Espanha, com a Inglaterra e, conseqüentemente, Portugal, seu pequeno e tradicional aliado, ensejou a chamada Guerra dos Sete – 1756 a 1763 –, que envolveu diversos outros beligerantes. Em outubro de 1762, tropas espanholas e missioneiras apoderaram-se da Colônia de Sacramento e, em abril de 1763, da vila de Rio Grande, obrigando aos luso-brasileiros a recuarem para os Campos de Viamão.
Apenas em 1776, a vila e porto de Rio Grande e as terras do interior rio-grandense seriam retomadas, por poderoso exército lusitano de sete mil homens. Em resposta, os espanhóis ocuparam a ilha de Santa Catarina e Sacramento, permanecendo para sempre na última povoação.
Em inícios de 1777, a morte de dom José I, e a entronização de sua filha, dona Maria I, permitiu a deposição do poderoso marquês do Pombal, e a volta ao poder da grande aristocracia fundiária portuguesa. Em outubro de 1777, o Tratado Santo Ildefonso reconhecia a soberania espanhola sobre a colônia do Sacramento e sobre as Missões, em troca de Santa Catarina, num tratado em tudo lesivo aos lusitanos.
Trigos, couros e mulas
Até 1780, a produção luso-rio-grandense centrava-se sobretudo no abate de bovinos pelo couro, na triticultura açoriana, na pequena agricultura de gêneros de subsistência, no envio de tropas sobretudo de mulas para Sorocaba, a grande feira sulina daqueles animais, em São Paulo.
Os trigais rio-grandense haviam sido plantados pelos colonos açorianos nas proximidades da lagoa dos Patos, ao longo do rio Jacuí e Taquari, nas cercanias de Rio Pardo, em geral com o apoio de alguns trabalhadores cativos. Ela era comercializada e embarcada no porto de Porto Alegre e exportada para o Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Portugal.
A ferrugem (1811), as dificuldades dos transportes, a rusticidade da produção, o alto preço relativo dos cativos, a inadequação da produção a produção escravista e, sobretudo, a concorrência do trigo estadunidense, após a liberdade comercial decretada em 1808 por dom João, levaram a que o trigo rio-grandense fosse alijado dos mercados regional, `nacional` e mundial.
O Rio Grande luso-brasileiro exportava grandes tropas de muares que subiam pelo nordeste da serra e do planalto em direção da grande feira de Sorocaba, onde eram vendidas para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Na época, as mulas eram o grande meio de transporte de cargas e de homens. A decadência da mineração no Brasil Central, nos anos 1770, e, portanto, da necessidade de mulas para o transporte, arrefeceu a criação muar sulina, até ser relançada pelas necessidades da produção cafeicultura do Rio de Janeiro, a partir dos anos 1830.
A ocupação da Campanha
Inicialmente, a economia pastoril rio-grandense exportava couros para o mercado internacional e produzia carne apenas para o limitado mercado regional, em geral através do abate do gado selvagem. A ocupação da Campanha por fazendas criatórias recebeu poderoso impulso com a instalação da indústria charqueadora, que valorizava ao permitir o transporte de suas carnes através da salgação.
As grandes secas de 1777-8 e 1791-2, no nordeste do Brasil, dizimaram os gados que alimentavam a produção de carne-de-sol sobretudo do Ceará e do Piauí, que abastecia tradicionalmente a colônia naquele alimento, uma das bases da alimentação das populações escravizadas e de poucos recursos.
Com a expulsão dos espanhóis de Rio Grande, em 1776, charqueadas surgiram nas margens das lagoas, no rio Jacuí, em torno de Porto Alegre e sobretudo nas margens do arroio Pelotas. Desde então, as necessidades das capitanias do Brasil passaram a ser satisfeitas pelas charqueadas sulinas, que exploravam duramente a mão-de-obra escravizada.
No mesmo sentido, os numerosos oficiais trazidos para a conquista de Rio Grande receberam ou apoderaram-se de sesmarias, valorizadas agora pela necessidade de gado das charqueadas. Em pouco tempo, as terras acessíveis do pampa esgotavam-se. Em 1785, poucos anos após a produção sistemática de charque, 64,22 % das 841 propriedades sulinas recenseadas tinham mais de 1.000 há.
O fim das Missões
Diminuídos poderosamente em sua população e territórios, sob a administração corrupta de prepostos espanhóis, os Sete Povos vinham conhecendo rápida e inexorável decadência, após a Guerra Guaranítica. Em 1801, aproveitando as hostilidades entre Espanha e Portugal, devido à guerra napoleônica, tropas irregulares luso-brasileiras apoderaram-se dos Sete Povos. A nova administração militar lusitana aprofundou os desmandos do governo espanhol.
A privatização definitiva dos territórios missioneiros ocorreria poucos anos mais tarde. Em 1808, dom João impulsionou a ocupação dos sertões do Brasil. Nesse processo, mandou "descobrir, povoar e cultivar os campos de Guarapuava" [Paraná], que se encontravam "infestados [sic] de gentios". Pretendia-se abrir estrada direta entre a feira de Sorocaba e as Missões, agora sob poder português.
Em 1809-1810, um destacamento militar demarcou caminho entre Curitiba e os campos de Guarapuava, fundando a seguir o forte de Atalaia, freqüentemente atacado pelas comunidades nativas da região. Nos anos seguintes, criadores estabeleceram propriedades, nessas regiões, sempre mais ao sul, em direção à fronteira com o Rio Grande do Sul.
Em 1816, uma expedição partiu do para estabelecer contato direto com as Missões, através dos campos de Guarapuava. O nativo Jongong, que orientou a expedição, temendo a belicosidade coroada nas margens do rio Uruguai, tomou o caminho do leste e dos Campos de Palmas, descobriu os Campos Novos, atravessou o rio Pelotas, chegou ao Campo do Meio, no nordeste do Rio Grande do Sul, de onde prosseguiu para São Borja.
A Expropriação Final
A expedição falhara na abertura de caminho direto entre a feira de Sorocaba e as Missões, mas redescobrira o caminho, através do Planalto Médio, ligando os Campos de Vacaria a Santo Ângelo, utilizado nos séculos anteriores, pelos nativos e pelos tropeiros e ervateiros missioneiros. A rota ficou conhecida como Caminho Novo das Missões.
A abertura do caminho entre os Campos de Vacaria e as Missões acelerou a substituição das antigas estâncias missioneiras por latifúndios pastoris luso-brasileiros e à ocupação do Planalto Médio, onde surgirão, a seguir, as povoações de Cruz Alta, Passo Fundo, Campo do Meio, Lagoa Vermelha, etc.
Desde 1816, o cabildo dos povos missioneiros e administradores luso-brasileiros venderam, a preços mínimos, ou concederam, gratuitamente, terras missioneiros e terrenos não designados, ensejando que militares, tropeiros e criadores, chegados de São Paulo, Curitiba, Lages e Laguna, organizassem fazendas criatórias nas antigas estâncias guaraníticas.
Segundo Nicolau Dreys, a população missioneira caíra de vinte mil missioneiros, em 1801, para oito mil, em 1914. O “Relatório ao Conselho Geral”, de dezembro de 1830, de Caetano Lopes Gama, presidente da província sulina, sentenciava: “Os Sete Povos [...] estão quase extintos. Santo Ângelo, São João, São Luiz e São Nicolau não têm um só índio. São Borja, São Lourenço e São Miguel, apenas 38.”
Expropriadas de suas estâncias coletivas, as populações missioneiras cruzaram o rio Uruguai ou dispersaram-se pelas fazendas sulinas, onde se empregaram, permanente ou periodicamente, como trabalhadores pastoris, dando origem, com as populações escravizadas e a comunidades pampianas aculturadas, às classes subalternas rio-grandenses dedicadas às atividades pastoris.
Com os anos, à expropriação das terras seguiu-se a própria expropriação da memória. Os missioneiros, agora peões pobres, sequer recordavam-se dos tempos gloriosos em que senhoreavam solidários as imensas e frutíferas fazendas comunitárias dos Sete Povos Missioneiros.
Mário Maestri, é historiador. E-mail: maestri@via-rs.net