"Hay hombres que luchan un dia y son buenos
Hay otros que luchan um año y son mejores
Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos
Pero hay los que luchan toda la vida
Esos son los imprescindibles"
(Bertolt Brecht)

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

📌📜🐎 SEMANA GAÚCHA... Contos Históricos do RS (Conto VI)

 



Uma memória reavivada em centenário da "Revolução" Farroupilha e o Paixão e seu romantismo pelo passado que conquistou nossas mentes à serviço do mundo estancieiro!
Em 1935, Porto Alegre tinha apenas 300 mil habitantes. O lago Guaíba chegava na beirada de onde hoje passa a Av. Borges de Medeiros. O governador era o aliado de Getúlio Vargas, Flores da Cunha, que em conjunto com seu secretário, o industrial Alberto Bins, e o presidente da FARSUL, Dário Brossard, organizaram uma Feira Gigantesca no parque na então chamada Várzea da Redenção. Seria uma exposição para comemoração do Centenário da "Revolução" Farroupilha. Os jornais foram a loucura. A comemoração foi grandiosa! Eram 17 Enormes Pavilhões de países, mais 7 de estados, fora o enorme pavilhão do Rio Grande do Sul. A Exposição recebeu mais de 1 milhão de visitantes em seu período de duração, que foi de 20 de setembro de 1935 até 15 de janeiro de 1936 (ano das olimpíadas em Berlim/Alemanha Nazista). Tal enormidade de evento, vai relançar a imagética popular acerca da memória, não real, do que significou realmente a ""Revolução"" Farroupilha.
No ano de 1948, o tradicionalismo se reorganiza por meio de um movimento iniciado no colégio Júlio de Castilhos. Liderado por Barbosa Lessa e Paixão Cortes, tinha por objetivo organizar, criar um clube de apologia às ditas “tradições gaúchas” mais abertos que os clubisticos Grêmios Gaúchos anteriores. Deste movimento, surgem os CTGs, os Centros de Tradições Gaúchas, que em sua organização já demonstram uma estrutura administrativa que imita a estrutura de poder da estância. Esta estrutura tem, por exemplo, como principal diretor o patrão, seguido do capataz, este do sota capataz e depois pelos posteiros. Em um primeiro momento, os militares presentes nestas organizações eram somente da brigada militar, pois o separatismo vicejava no imaginário inicial, mas o MTG/CTGs soube se aliar à Ditadura Militar (1964---1985) e cada unidade militar sediada no RS adotou um "Galpão Crioulo". O Movimento Tradicionalista conseguiu se impor sobre a cultura popular e dar seu rumo ideológico ao impor a ideologia conservadora, preconceituosa e de exaltação do comportamento violento como sendo identidade imanente à todo riograndense. Pegou elementos culturais herdados dos indígenas como o chimarrão (erva mate era uma erva sagrada Guarani) e dos habitos dos indígenas pampeanos como os charruas no que tange o chiripá e a arte de cavalgar em perfeita sintonia com o animal. A Boleadeira também é indígena, a a bombacha é imposição mercadológica do Imperialismo Inglês de sobras que eram uniforme para o exército turco que não vendeu. O Folclorista Paixão, falecido em agosto de 2018, copiou danças folclóricas uruguaias e transmutou-as a nosso cotidiano. O Tradicionalismo é uma miscelânea do real, do irreal, de manipulações de significados e interpretações.
Não é porque determinadas práticas e representações sejam encontradas no “povo”, isto é, nas classes subalternas, que elas são do povo. A cultura popular , ao contrário do que muitos querem, não é composta apenas de elementos de resistência, mas é também composta de elementos de conformismo.(FONSECA, 1994, P.59)
O TRADICIONALISMO pega elementos reais da cultura popular, herdados de geração em geração, que são elementos da vida simples e das heranças indígenas, que são todos colocados a serviço da construção da "herança" folclórica de um passado reacionário de apologia ao latifúndio explorador. Embotando assim a cultura popular e nublando a própria compreensão histórica de nosso passado. O TRADICIONALISMO É FOLCLORE, foi criado por folcloristas, mas NÃO É HISTÓRIA!
E um dos elementos simbólicos mais vivos de permeabilidade do tradicionalismo como elemento que molda nossa mente e impregna essa identidade é o monumento do Laçador. Inaugurado em 20 de setembro de 1958 e em 1992 tornado símbolo de Porto Alegre, o monumento é onde convergem protestos, de pedidos de impeachmet da ex governadora Yeda/PSDB até outros mais humorados. Mas nada tem de humor quando se pensa no conservadorismo que essa visão de mundo latifundiária enseja no estado via aculturação do bruto, da "Pedagogia da Doma".Nas letras da música nativista que não se rendem ao embotamento tradicionalista, está a letra e música de Noel Guarany, "Potro sem Dono", que trás uma letra reveladora:
🎶Vai potro sem dono, vai livre como eu.
Se a morte lhe faz negaça,
Joga a vida com a sorte.
Despresando a própia morte,
Não se prende a preconceito.
Nem mata a sede com farsa,
Leva o destino no peito.
Na seiva da madrugada,
Vai florescendo a canção.
Aquece o fogo de chão,
Enxuga meu pranto de ausência,
Nesta guitarra campeira,
Velho clarim da querência.🎵
Éric Vargas
: Professor de História e Filosofia da rede pública estadual do RS.

Nenhum comentário: