"Hay hombres que luchan un dia y son buenos
Hay otros que luchan um año y son mejores
Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos
Pero hay los que luchan toda la vida
Esos son los imprescindibles"
(Bertolt Brecht)

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Sobre o Hino do RS

As manifestações simbólicas, sejam hinos, bandeiras, brasões, escudos etc são representações ideológicas dentro da historiografia dos vencedores, não são entes “sagrados”, naturalizados como esse fossem obra de seres superiores, são feitos por pessoas de carne e osso. Pierre Bourdieu “defende a concepção de que as representações sociais são influenciadas pelas ideias, valores, crenças e ideologias existentes anteriormente em uma sociedade, e que se fazem presentes na linguagem que utilizamos para nos comunicar, nas religiões e no chamado senso comum que compõem o habitus de cada agente, e também as concepções que circulam entre os participantes dos campos sociais, grupos profissionais e classes sociais”.

Muitas dessas simbologias são produzidas sob encomenda, retratam a história da classe então dominante, e a cultura dessa classe torna-se cultura dominante em toda a sociedade. É um processo de introjeção de seus valores e da sua visão de mundo no conjunto da sociedade em que está inserida, abarcando todo o tecido social, inclusive, os dominados, que passam a ser seus reprodutores através do senso comum. Para Karl Marx: “As ideias dominantes numa época nunca passaram das ideias da classe dominante”.

Só para exemplificar, o Movimento Tradicionalista Gaúcho, o MTG, tem seu arcabouço teórico pautado, em grande parte, na Revolta Farroupilha, que foi um movimento liderado pelos fazendeiros, que utilizaram seus escravos com objetivo principal – NÂO PAGAR IMPOSTOS À UNIÃO - (são sonegadores atávicos). Essa revolta cantada em verso e prosa nada tem a ver com o interesse de pobres, negros, desgarrados, sem-terra, mas é cultuada, simbolicamente, por grande contingente desses, infelizmente, pois são produtos desse senso comum.

Essa revolta farroupilha é a mesma que armou a morte dos lanceiros Negros, em Porongos, crime racista abominável. Portanto, o hino reproduz esta ideologia de classe. Os negros que foram e são, em grande parte, vítimas disso, não têm nada para cantar e têm o direto de lembrarem seus mortos, durante um hino que esconde a verdadeira História. É preciso desnaturalizar os mitos.

Texto: José Ernesto Grisa




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