"Hay hombres que luchan un dia y son buenos
Hay otros que luchan um año y son mejores
Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos
Pero hay los que luchan toda la vida
Esos son los imprescindibles"
(Bertolt Brecht)

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Mensaje Año Nuevo/ Mensagem Ano Novo

A todos los Compañeros y Compañeras vinculados con la Solidaridad con Cuba:
Al despedirnos del ya viejo 2008 y a unos días de cumplir 50 Años de la Revolución Cubana, comparto con ustedes nuestros ideales de construcción socialista, manteniendo la confianza y el optimismo por seguir trazando caminos de victorias. Con la fuerza de nuestras ideas, el espíritu inquebrantable de nuestro pueblo y los lazos de colaboración y solidaridad con otros países continuaremos nuestras luchas por lograr un mundo mas solidario y justo.
Feliz 2009!!!!
Abrazos solidarios,
María Antonia Ramos (Assessora Política da Embaixada de Cuba )

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Bento Gonçalves da Silva: o abigeatário confesso


Os empresários cantam aos quatro ventos, que são eles os responsáveis pela existência dos empregos. Sem eles a produção dos bens e serviços, a sociedade não existiria. Há certa razão em suas palavras, mas, porém, o que não é revelado ao povo das nações que esta responsabilidade não se deve aos préstimos sociais pelo quais os meios de produção deveriam corresponder, as necessidades básicas de vida dos seres humanos. Há, aqui, implícito, inerente ao sistema capitalista o inverso das necessidades de reprodução da vida. Um conjunto de princípios estabelecidos pelo movimento do dinheiro e, assim, uma rígida incompatibilidade com o complexo das faculdades anímicas da humanidade.

O âmago desta combinação, propriedade privada dos meios de produção e dinheiro, desde a sua origem, institui inescrupulosamente na sua maneira de ser, comportamentos e atitudes nas transações com o objetivo de acumular capital, em detrimento das necessidades das pessoas.

Quando o objetivo da sociedade é o dinheiro, a violência, o crime estabelece na sociedade seus interesses, as divisões, a quebra da unidade humana da solidariedade. Funda-se o individualismo para dar sentido e justificar cada ação. A cada divisão da força de trabalho reduz-se a necessidade de seres humanos para realizar as tarefas da produção seja na agricultura, na indústria ou em serviços. Somente tem alcance de realizar suas necessidades aqueles que podem pagar pelo que necessita seja: saúde, educação, alimentos ou uma geladeira.

No artigo, “A Matriz da Violência do Mundo” de Cristóvão Feil, estas evidências aparecem com precisão, apesar do cotidiano, para os demais mortais, estar empacotado no senso comum construído pela preponderância ideológica da classe dominante. E por ventura ao desvendar-mos, ao romper-mos com a invisível e espessa alienação, que condensa uma espécie de vedação, e concretizada como verdade absoluta na consciência das pessoas padronizando costumes e condutas. Como exemplo disso, citaremos a farsa dos heróis das elites proprietárias do Rio Grande do Sul: o General Bento Gonçalves da Silva, abigeatário confesso –o grande herói da burguesia guasca.

O capitalismo é um jogo, que coloca as pessoas em confronto constante e à ambições ilimitadas. Violência e crimes escoram toda as justificativas e condenam todos aqueles que o contestam no fio da navalha.


Leia aqui, artigo postado no Diário Gauche por Cristóvão Feil: A Matriz da Violência do Mundo

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O gaúcho era gay?


Mário Maestri (*)
La Insignia. Brasil, novembro de 2006.


Em 20 de setembro de 2002, em pleno centro de Porto Alegre, durante celebração da Semana Farroupilha, membros do Movimento Tradicionalista Gaúcho sovaram a relhaços militante do movimento gay que se introduzira, montado e pilchado, na parada regionalista, com a bandeira do arco-íris, símbolo mundial da luta contra a discriminação sexual e pela paz. Ao passar diante do palanque do governador do Estado, Olívio Dutra, também vestido de gaúcho, o ativista gritara ser aquela a "verdadeira bandeira da revolução". Em inícios de 2005, em Centro de Tradições Gaúchas de Passo Fundo, no norte do RS, professor foi expulso do salão de festa por portar brinco em uma orelha. Segundo o patrão do clube, folcloristas e o presidente do Movimento Tradicionalista Gaúchos, o adereço agredia por sua feminilidade a procurada figuração contemporânea do gaúcho histórico.

O ato público de covardia grupal homofóbica de 2002, ou o comportamento autoritário e machista de 2005, materializam a angústia do movimento tradicionalista diante da simples sugestão de que o gaúcho do passado, objeto paradigmático das recriações encenadas pelos cetegistas do presente, tenha conhecido, mesmo marginalmente, orientação homossexual. Uma realidade que negaria a essência mítico-histórica proposta para o personagem, apresentado como símbolo do rio-grandense de ontem, hoje e sempre. Entre as principais atribuições do tradicionalismo ao gaúcho destaca-se a qualidade, cantada em prosa e verso, de ser tão, mas tão totalmente macho, que essa macheza desbragada terminou virando motivo de jocosidade geral, de além e aquém Mampituba.

A desembargadora Maria Berenice Dias, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, ao rechaçar publicamente a agressão física ao militante gay, de 2002, teria feito a pergunta cuja verbalização faz tremer o tradicionalismo sulino: "Por que não pode existir um gaúcho gay de bombachas?" (Época, 227, 23.09.02. www.epoca.com.br) Ou seja, em palavras simples e sem floreios: "O gaúcho do passado, cavaleiro vagabundo dos campos indivisos, centauro destemido dos pampas, guerreiro indômito do sul das Américas, motivo de lendas e romances, poderia ter sido, eventualmente, gay?"

Por vocação ou necessidade

Desconheço se há estudos históricos científicos sobre a orientação sexual do gaúcho, questão de não desprezível interesse, nem que seja como contribuição para a superação tendencial das propostas homofóbicas construídas em torno desse personagem, permanentemente esvaziado de seu sentido histórico pelas representações mítico-triviais do passado, que o confundem, mais e mais, com o fazendeiro, seu antagonista social. Porém, por razões obvias, sem o apoio de qualquer dado histórico positivo, podemos afirmar que a gauchada dos pampas sulinos, uruguaios e argentinos, como qualquer outra população masculina, em qualquer local e época, dividiu-se em uma maioria de heterossexuais e uma minoria de homossexuais.

Em forma muito geral, as práticas homossexuais correspondem à realização dos impulsos sexuais de indivíduos orientados eroticamente para o mesmo sexo ou como derivativos nascidos da impossibilidade de objetivação de orientação heterossexual. Especialistas defendem que, em qualquer situação e época, de quatro a quatorze por cento da população masculina seria homossexual [homossexuais exclusivos, segundo Alfred Kinsey, 1949], divergindo sobre as origens genéticas, psicológicas, sociais etc. do fenômeno. O impulso homossexual derivativo nasceria comumente de isolamento de população do mesmo sexo, em conventos, quartéis, internatos, presídios, navios, etc., campo fértil para a realização dos impulsos homossexuais dominantes ou subordinados e de práticas sexuais derivativas.

Essa distribuição natural da população, tendo nos seus extremos uma maioria hétero e uma minoria homossexual, constitui apenas o ponto de partida de uma eventual investigação sobre a sexualidade da população gaúcha ou de qualquer outra. Isso porque as orientações sexuais profundas e derivativas materializam-se no contexto de inúmeras e complexas determinações sociais, culturais, etc. Portanto, a questão não é saber se houve ou não gaúchos homossexuais, já que tal questão registra, em si, profunda ignorância e preconceito sobre a sexualidade humana, mas sim desvelar como o gaúcho homossexual teria vivido sua orientação homoerótica, nos diversos espaços geográficos e de tempo.

Entretanto, a questão sobre a orientação e objetivação das tendências sexuais do gaúcho torna-se ainda mais complexa devido ao fato de dispormos de informação histórica positiva que pode sugerir, hipoteticamente, que as práticas homoeróticas não fossem incomuns entre a população gaúcha heterossexual, devido precisamente às características singulares da forma de vida e de produção desse habitante do pampa sul-americano, como assinalado, motivo de infindáveis narrativas e figurações, dos mais diversos cunhos, em geral profundamente românticas e folclorizadas.

Falando mal

José Feliciano Fernandes Pinheiro nasceu em Santos, em 1774, em família abastada. Com 18 anos, partiu para Portugal, formando-se em Direito Canônico em Coimbra. Com as finanças familiares abaladas, estabeleceu-se em Lisboa, trabalhando como tradutor. Em 1800, viajou para a colônia brasileira, para ser juiz da alfândega das capitanias de São Pedro e Santa Catarina e auditor dos regimentos do Rio Grande. José Feliciano publicou, em 1819-22, os célebres Anais da Província de São Pedro, tidos como primeira história orgânica do Rio Grande, escritos desde a ótica de um burocrata de destaque do império lusitano. Na primeira edição dos Anais, José Feliciano desanca literalmente a sociedade e o habitante sulinos. Define os rio-grandenses como "inertes e vários, e de natural ferino" e propõe que os "roubos, mortes e atentados" dominassem o interior, devido aos "poucos progressos" da "moral", das "leis" e do "espírito de sociedade" locais, ensejados pelo "ruim fermento" da população original, constituída pelo "enxurro da nação", ou seja, "degredados" e "mulheres imorais e banidas". Isso porque os poucos "casais" açorianos, de límpido sangue lusitano, teriam "emigrado" devido ao descumprimento das promessas públicas.

O paulista enxovalhou igualmente sem dó a sociedade pastoril, ao anatematizar o churrasco, causa segundo o mesmo da "insensibilidade" com o "espetáculo da dor e da morte" do "estancieiro" e do "charqueador", que despedaçavam a "cada passo uma rês". Para ele, os "devoradores de vianda em geral" seriam "mais cruéis e ferozes" do que o homem normal. Ao referir-se à fazenda pastoril, registrou afirmação intrigante. Propôs nada menos que, devido à "inércia" da estância, o seu habitante conheceria a "moleza, a ociosidade e a devassidão", causas de "misérias" e, muita atenção, da baixa "multiplicação da espécie humana".

Não apenas na época, sobretudo no mundo católico homofóbico ibérico, acusava-se a sodomia, ou seja, a homossexualidade masculina, como forma de "devassidão" responsável pela frustração da "multiplicação da espécie humana". Essa interpretação deve ser tomada em sentido hipotético, ao lado de outras eventuais leituras, devido ao caráter obscuro e sintético da afirmação de José Feliciano. Porém, vinte anos mais tarde, um outro autor de narrativa muito conhecida do Rio Grande voltava a tocar, na mesma tecla, com ainda maior intensidade, sugerindo, assim, que a dupla fumaça poderia ser indício de um único foco de fogo.

Nicolau Dreys nasceu em 1781, na França. Funcionário público e militar bonapartista, viajou ao Brasil, após 1815, dedicando-se ao comércio. Conheceu diversas províncias, vivendo no Sul, na capital e no interior, em fazendas e charqueadas, de 1817 a 1827. Dreys publicou sua Notícia descritiva da província do Rio Grande de São Pedro do Sul, em 1839, no Rio de Janeiro, onde faleceu, em 1843. Sua Narrativa traz rica informação sobre o gaúcho, sua gênese e principais características. Ao concluir seu valioso depoimento, propõe que o gaúcho literalmente não gostava de mulher, devendo-se a isso a sua baixa proliferação, para o francês, fenômeno positivo, devido à fereza daquele tipo social.

¡No me gustan las chicas!

"Os gaúchos parecem pertencer a uma sociedade agyne [sem mulher], como dizia [Francesco] Algarotti, que viviam no seu tempo os Tártaros zoporojos; pelo menos, os gaúchos aparecem geralmente sem mulheres e manifestam mesmo pouca atração por elas, felizmente para seus vizinhos, a quem sua multiplicação, acompanhada de desejos tumultuosos, poderia causar desassossego [...]." Também a importante proximidade entre as propostas de José Feliciano e Nicolau Dreys não pode ensejar afirmações conclusivas, despropositadas e peremptórias. Não deve, porém, ser desconhecida e desconsiderada como ponto de partida para investigações mais detidas.

O gaúcho surgiu no Prata sobretudo como nativo destribalizado ou mestiço de europeu e pampiano ou guarani, vivendo em forma semi-nômade em campos abertos ainda que em geral apropriados privadamente, em contato intermitente com a sociedade ibérica. A explicações etimológicas mais comuns é que gaúcho teria se originado da palavra quíchua, importante idioma andino, "huachu" ou "huakcho", com o significado de "órfão", "vagabundo", "errante", "sem raízes". O nome não possuía feminino, já que não havia uma gaúcha. Na língua araucana, falada no sul do Chile e da Argentina pelos mapuches, "huaso" descreve o "habitante do campo" e "gatchu", "amigo" ou "parceiro".

No Rio Grande, mas sobretudo no Uruguai e na Argentina, o gaúcho incorporou-se, em forma permanente e episódica, à fazenda pastoril, como peão, o que não deve ensejar confusão entre os dois termos, já que o primeiro é atinente, originalmente, a uma etnia e cultura e, o segundo, a uma profissão. Nem todos os peões eram gaúchos e nem sempre o gaúcho trabalhava como peão. Segundo parece, sobretudo a partir dos anos 1870, quando os campos começaram a ser cercados, transformando o cavaleiro vago em intruso, o gaúcho foi definitivamente apealado pela necessidade econômica à fazenda, confundindo-se até mesmo etimologicamente com o peão.

Se, nos campos abertos, o gaúcho podia fazer-se acompanhar por uma companheira, em geral uma china - mulher, em quíchua - e, ainda com maior dificuldade, por algum filho, ele era aceito na fazenda pastoril apenas como trabalhador sem laços familiares. O custo de manutenção do peão e de sua família era dificilmente coberto pelo trabalho marginal que sua mulher e filhos pequenos forneceriam. Sobretudo, o fazendeiro temia que núcleos familiares de peões criassem laços familiares, societários e com a terra que questionariam inevitavelmente a posse latifundiária.

Eternamente solteiros

Na fazenda, além do fazendeiro, apenas o capataz, na sede, o posteiro, nas bordas da propriedade, e o cativo, nas senzalas, acasalavam-se normalmente, assegurando a baixa reprodução da mão-de-obra livre e escravizada necessária à produção pastoril. O cativo, campeiro ou não, podia se casar e multiplicar, como parece ter feito abundantemente no sul do Brasil, pois produzia seres que tinham no fazendeiro seu verdadeiro pai sociológico, já que eram dele propriedades e a ele deviam obediência e trabalho.

O peão, ao contrário, permanecia solteiro, dormindo no galpão, ao pé do fogo ou, mais tarde, em pequeninos dormitórios coletivos. Os levantamentos arquitetônicos das fazendas rio-grandenses dos séculos 18 e 19 registram a presença da sede, do galpão, da senzala, dos depósitos, dos currais e jamais de moradias unifamiliares para os peões. Essa triste condição do peão manteve-se quase plenamente até poucos anos.

Estudo de 1964 registrou que, nas fazendas rio-grandenses estudadas, 75% dos peões eram solteiros, enquanto praticamente 71% do capatazes eram casados. Sobre os peões, Laudelino Medeiros, autor desse valioso levantamento, registrou: "As mais das vezes dormem numa peça junto ao galpão, mais propriamente uma divisão no galpão: o quarto dos peões. Ali se encontram quatro ou cinco camas rústicas (...). São poucas as fazendas que têm quartos individuais ou de dois para os empregados." Os poucos peões casados dormiam em geral nos dormitórios coletivos e visitavam a família uma vez por semana.

Cada modo e forma de produção tem sua lei demográfica tendencial. Carente de braços, a economia colonial-camponesa ensejou explosão demográfica, impondo à camponesa papel de verdadeira parideira, de conseqüências fisiológicas, psicológicas e sociais que apenas começam a ser estudadas. A produção pastoril latifundiária e extensiva exigia escasso emprego de mão-de-obra, determinando muito baixos acasalamento e reprodução dos trabalhadores livres, fenômenos registrados no despovoamento relativo das regiões envolvidas pela economia pastoril, no RS, no Uruguai e na Argentina. Uma realidade imposta pelo fazendeiro em detrimento das necessidades e anseios, conscientes e inconscientes, do gaúcho-peão. Nesse sentido, acertava Dreys, ao ver no gaúcho um homem sem mulher, mas errava, redondamente, em sugerir que o fenômeno pudesse dever-se a sua pouca simpatia com o frágil ser do sexo feminino.

O barranco e o gaúcho

A falta de mulheres, a dificuldade em constituir família, os longos períodos vividos dioturnamente apenas entre homens, nos campos, na sede, no galpão e nos dormitórios coletivos, certamente motivaram forte tensão na vida erótica dos peões e gaúchos heterossexuais, raízes das conhecidas práticas zoofílicas, motivo de poesias tradicionalistas cantadas comumente, é lógico, quando as prendas não estão presentes. Não deixa de ser interessante que o amor carnal do peão por sua égua arranque sorrisos simpáticos e cúmplices, enquanto que o abraço do gaúcho, alegre ou triste, ao seu companheiro de faena, luta e tristeza cause arrepios de horror aos muchachos nativistas!

O desespero dos tradicionalistas com a eventualidade de que o gaúcho histórico fosse, ainda que minoritariamente, homossexual, ou tivesse, eventualmente, comportamentos homoeróticos, deve-se em parte à falsa associação necessária da homossexualidade masculina a comportamentos femininos. A feminização é apenas uma, e talvez nem mesmo a mais significativa, entre as múltiplas formas de vivência da homossexualidade masculina. Em muitos países, a expressão da homossexualidade dá-se, precisamente, através da ênfase dos atributos físicos e psíquicos masculinos.

Uma das muitas qualidades do belo filme de Ang Lee, "O Segredo de Brokeback Mountain", de 2005, é precisamente apresentar o longo, tenso e dramático relacionamento afetivo e sexual de dois peões estadunidenses, no contexto da integridade plena dos atributos e comportamentos tidos como normais à identidade masculina. Ou seja, mostrar uma forma da expressão da homossexualidade masculina que deixa muito pouco espaço aos preconceitos e caricaturas habituais sobre o relacionamento homoerótico. Uma reconstituição que pode nos sugerir, igualmente, comportamento dominante dos gaúchos eventualmente homossexuais ou envolvidos em atos homoeróticos no passado.

É crível que o hipotético gaúcho homossexual vivesse ou reprimisse, mais ou menos plenamente, suas orientações profundas, sem jamais deixar de ser e de se comportar como o gaúcho que era. Ou seja, continuaria sendo macho, mas tão extremamente macho, que, caso se encontrasse no centro de Porto Alegre, em 2002, entraria no entrevero, mesmo de mãos nuas e desmontado, nem que fosse para não ter o desgosto de ver um grupo de barbados, de rebenques na mão, fantasiados de gaúchos, se encostando um nos outros, cheios de fricotes, para encontrarem a coragem que lhes faltava para surrar um guasca solito e desmamado. Um ato, definitivamente, convenhamos, mui, mas mui pouco macho!


Bibliografia consultada

CHAVES, Antônio Gonçalves. Memórias Ecônomo-políticas sobre a administração pública do Brasil. Porto Alegre: Companhia União de Seguros Gerais, 1978.
DELLA FLORA, Jussara Maria "Rosas na Coroa, Pranto na Vida: a história silenciosa da Camponesa Oestina ítalo-catarinense". Passo Fundo: PPGH UPF, 2005. [Dissertação de Mestrado.]
DREYS, Nicolau. Notícias descritiva do Rio Grande do Sul. 4 ed. Porto Alegre: Nova Dimensão; PUC, 1990.
MAESTRI, Mário. O escravo no Rio Grande do Sul: trabalho, resistência e sociedade. 3 ed. Revista e ampliada. Porto Alegre: EdiUFRGS, 2006.
MEDEIROS, Laudelino T. "O peão de estância: um tipo de trabalhador rural". Porto Alegre: Instituto de Estudos e Pesquisas Econômicas da UFRGS, 1967. [Edição fotocopiada]
SÃO LEOPOLDO, José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de. Anais da Província de São Pedro. 5ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.
SILVA, Nery Luiz Auler da. Antigas fazendas : arquitetura rural do Planalto Médio. Séc. XIX. Passo Fundo: Edição do Autor, 2003.

Artigo escrito para a Revista Arquipélago. A homofobia. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro/Governo do Estado do RS, 2006.

(*) Mário Maestri, 58, é historiador e professor do Programa de Pós-Graduação em História da UPF. E-mail: maestri@via-rs.net

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Caprichos da burguesia guasca

O vento e o lixo

http://www.diariogauche.blogspot.com/


O litoral guasca é coisa pra macho

Dias atrás dei uma recorrida no Litoral Norte. Entrei via Cidreira e percorri praticamente todas as praias, até Torres. Na natureza se destacam o vento forte e constante, molhado de maresia e um mar achocolatado, revolto e gelado. Coisa pra macho. Na paisagem urbana uma arquitetura pobre e repetida, muito lixo em terrenos baldios, lixo nas ruas, lixo nas poucas calçadas, o que denota a existência de um poder público que está se lixando para moradores e turistas, e uma novidade que cresce como cogumelo: condomínios fechados, muros altíssimos, com nomes que nada significam mas demonstram fantasias povoadas de monarcas, nobrezas e imaginários pré-capitalista e pré-republicano.

Passei por um condomínio cujo nome é Condado da Riviera, uma mescla tola de ignorância com desorientação. Falei com um zelador que estava visivelmente assoleado, sentado num abrigo inútil, na portaria do tal Condado:

- O senhor pode me dizer onde mora o Conde?

Ele nada respondeu. Acho que estava sofrendo uma forte insolação.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Construtores de uma Farsa: gauchismo urbano




São eles: Paixão Cortes, Barbosa Lessa, Glauco Sariava....Ideólogos da burguesia guasca, criaram o MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho) e o clubinho preconceituoso do CTG (Centro de Tradições Gaúchas).

Algumas Caracterisitcas do MTG e do CTG:

- estrutura do latifúndio-, patrão, capataz, peão, prenda.

- o "gaúcho" não possui um lugar na estrutura do CTG.

- herdeiro de uma ordem ditatorial e transformou-se no desaguadouro do pensamento e das práticas de caserna.

- O tradicionalista é um ser fragmentado.

- Sempre tem um piquete de estúpidos para agredir pessoas "fora do padrão".

- usam o método da estupidez para converter à obediência – a chamada pedagogia da doma usada com animais.

- tradicionalismo assumiu oficialmente um caráter “oficialista”, cívico-fundamentalista.

- Paixão Cortês fora tocado pelos rodeios e estilo de vida dos caubóis norte-americanos.

- o Tradicionalismo acabou se transformando em uma cultura de caserna, de inspiração de um positivismo desilustrado, dominado, em especial, pelos oficiais brigadianos, funcionários públicos e pela direita culturalmente limitada, líderes de legiões de "artistas" do lumpesinato.

-Na fase espontânea, lúdica e telúrica do Tradicionalismo foi colocada uma canga disciplinadora, controladora, de obediência.

- o Tradicionalismo expressou a sua hegemonia na instituição do MTG como instrumento da Ditadura Militar.Nessa arreada, o Tradicionalismo transformou-se na "cultura oficial" do Rio Grande do Sul como expressão do poder e assumiu seu aspecto militantemente ideológico. Terminava qualquer inocência em seu interior.

- A trilha sonora da tortura foi a música tradicionalista. Todo preposto da ditadura no Piratini teve um lacaio pilchado para servir o mate, assar o churrasco e animar a tertúlia. Cada quartel construiu seu galpão crioulo como eco desse tempo obscurantista, de tortura, de morte, de repressão e de controle popular, especialmente da alma e da sensibilidade.

-O núcleo fundamental do Tradicionalismo, do qual deve emanar o comportamento e a cultura, é a estância simbólica. A arte da elite era preferencialmente palaciana. Admitiam-se somente as expressões "aceitas". Na verdade, a oligarquia real era universal. O Tradicionalismo não é sequer uma extensão cultural da oligarquia, de cuja propriedade retirou seu ícone fundante. Ele é uma leitura equivocada, uma adoção ilusória de sua rusticidade. Sequer abagualada e xucra, pois isso poderia remeter para a insubmissão.

- No CTG se encontram o peão, o agregado, o posteiro, o capataz, todas as figuras obedientes, atreladas ao mando da sede, do núcleo inquestionável do poder do patrão.

- MTG é um movimento de defesa de uma moralidade conservadora, de uma idéia pastoril cristã de família.

- CTG não é lugar de gaúcho; é lugar de patrão e peão, de gente obediente, conformada e militante da ordem, mesmo que o sistema trate o povo como gaúcho e excluído.

- MTG é uma entidade privada, mas que, colocando-se como "cultura oficial", invadiu instituições, domina espaços do governo e possui reservas vitalícias nos órgãos públicos. Além disso, arrecada considerável verba pública para os seus eventos. Invadiu a escola para converter os alunos ao seu culto, quando a educação republicanamente é o espaço do saber, do estudo.

- MTG é um movimento militante ideológico-cultural, cada vez mais fundamentalista e intolerante, que procura converter-se em um poder dentro do Estado, invariavelmente pressionando, quando não elegendo governantes.

- O "orgulho gaúcho" é completamente inútil para protagonizar a modernidade, apesar do próprio tradicionalista ser um ente pós-moderno, no sentido que postula uma identidade pela imagem e pelo culto ritualístico. A sua energia e militância, no entanto, cria um cenário dogmático.

- a missa crioula é uma ode ao mundo estancieiro. A propriedade foi sacralizada. O latifúndio, por sua extensão, é ressignificando como a "estância do Céu"; Deus, como o "Patrão celestial"; São Pedro, como o "capataz"; Jesus Cristo, como o "tropeiro" que andou pela terra mangueirando o rebanho; e, Nossa Senhora, como a "prenda" disso tudo.

- MTG fortalece o dogmatismo. Essa "dureza" de pensamento se evidencia na sala de aula, na política, na cultura. Não existe nada pior do que o ignorante com "certezas" imutáveis. Praticamente é um insensível com o outro. O mundo é uma pirâmide, com o patrão no topo; e ele, psicologicamente, junto... O fundamentalismo é uma totalidade. No seu último congresso, o MTG adotou o projeto de fundar as suas próprias escolas de ensino fundamental e médio, além de uma universidade. É simplesmente assustador para a vida republicana.

- o MTG, ao menos no Rio Grande do Sul, possui um forte impulso militaresco; as pilchas já não são mais expressões da vestimenta civil, pois os CTGs andam uniformizados; e os piquetes parecem grupos militares ou de milicianos, invariavelmente ocorrendo escaramuças entre eles, em disputas inócuas, mas de intensa mobilização.

- O autoritarismo castilhista colocou-se, por fim, como herdeiro dessa tradição, e, por meio da difusão educacional, disseminou-se a falsa visão de que os farrapos eram republicados e que o povo lutou ao seu lado contra o Império.

- O auge do processo de colaboração entre a Ditadura e o MTG foi a instituição do IGTF - Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, em 1974, consagrando uma ação que vinha em operação desde 1954. A missão era aparentemente nobre: pesquisar e difundir o folclore e a tradição. Mas do papel para a realidade existe grande diferença. Havia um interesse perverso e não revelado.

- A lei que instituiu a "Semana Farroupilha" é de dezembro de 1964, determinando que os festejos e comemorações fossem realizados através da fusão estatal e civil, pela organização de secretarias governamentais (Cultura, Desportos, Turismo, Educação, etc.) e de particulares (CTGs, mídia, comércio, etc.).

- Durante a Ditadura Militar, o Tradicionalismo foi praticamente a única "representação" com origem na sociedade civil que fez desfiles juntamente com as forças da repressão.

- o Tradicionalismo engrossou os piquetes da ditadura - seus serviçais pilchados animaram as solenidades oficiais, chulearam pelos gabinetes e se responsabilizaram pelas churrasqueadas do poder. Esse processo de oficialização dos tradicionalistas resultou na "federalização" autoritária, com um centro dominador (ao estilo do positivismo), com a fundação do Movimento Tradicionalista Gaúcho, em 1967. Autoritário, ao estilo do espírito de caserna dos donos do poder, nasceu como órgão de coordenação e representação.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Mais uma Brittisse-Yedisse: prorrogação dos pedágios

Mobilização pela Internet contra a prorrogação dos pedágios


Abaixo-Assinado contra a prorrogação dos pedágios PL 279/2008, autoria desse governicho da Yeda Cruela Cruzes:
http://www.abaixoassinado.org/assinaturas/assinar/2614

*A imagem mostra um tucano no guichê da ponta direita da tela.

http://www.dialogico.blogspot.com/

Mais uma Yedisse: Fechamento Conselho Distrital de Sáude


Conselho Distrital de Saúde Glória/Cruzeiro/Cristal

Convocação para Plenária

A Coordenação do Conselho Distrital de Saúde Glória/Cruzeiro/Cristal convida para a Plenária Ordinária que realizar-se-á dia 18 de novembro, às 19 horas, no auditório do Centro de Saúde Vila dos Comerciários, na rua Professor Manoel Lobato, 151 Vila dos Comerciários, para debater e deliberar sobre a seguinte pauta:

- Informes;

- Apresentação do mapa da área de atuação e diagnóstico comunitário do PFS Nossa Senhora de Belém;

- Desmonte do Núcleo da FADERS na Vila Cruzeiro.

Solicitamos a colaboração para a divulgação deste convite. Sugerimos a afixação em local de fácil visualização, o re-encaminhamento a pessoas fora da intranet da PMPA, a divulgação junto a instituições prestadoras de serviços, associações comunitárias, instituições religiosas e outras formas de comunicação que tenham como objetivo principal os usuários do SUS.

Pela Coordenação



Gláucia Fontoura /Pedro Ribeiro



Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação[1].

POA14112008



[1] Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Conselho Distrital de Saúde Glória/Cruzeiro/Cristal

DENUNCIA

Governo do Estado do RS quer fechar serviço que atende crianças e adolescentes

A FADERS/SJDS – Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades do Estado do Rio Grande do Sul, entidade vinculada a Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social, está sendo ameaçada de encerrar as atividades realizadas no Centro de Atenção a Saúde Mental – CASM/FADERS, instalado no Postão da Vila Cruzeiro desde junho de 1991. A entidade oferece atendimento clínico-terapêutico, pedagógico, psicológico, psicopedagógico e social a famílias com crianças e adolescentes portadores de deficiência mental, deficiência física, baixa visão, cegueira, deficiência múltipla, paralisia cerebral, condutas típicas e altas habilidades.

A citada ameaça está oficializada internamente na FADERS pelas diretorias técnica e administrativa, sem a devida discussão com o conjunto de instituições que lutam pela qualificação das políticas públicas destinadas as crianças e adolescentes.

Esta medida, seguramente gestada no conforto de gabinete, ignora o impacto para os usuários das regiões Glória/Cruzeiro/Cristal, Sul e Extremo Sul, bairros que já apresentam carência de atendimento pelas políticas públicas e dificuldades de acesso aos serviços. É uma pretensão insana que ataca frontalmente os direitos humanos, tendo o seu efeito agravado por tratar-se de um serviço de atenção em saúde mental, área sabidamente carente de oferta.

Este Conselho Distrital denuncia esta arbitrariedade e solicita a divulgação deste manifesto para seus relacionamentos institucionais, comunitários e virtuais, bem como, ao Ministério Público, Justiça, Conselhos de Direitos, Controle Social, Legislativo, Gestores Públicos e Sociedade em Geral.

Sugerimos manifestação para as seguintes pessoas:

Direção da FADERS: faders@faders.rs.gov.br

Diretor-Presidente
Cláudio Sérgio Vidal Petrucci

Diretora Administrativa
Aracy Maria da Silva Lêdo

Diretora Técnica
Denise Tereza Marchetti

Gabinete da Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social:

juarezhampel@sjds.rs.gov.br Secretario: Fernando Schüler