"Hay hombres que luchan un dia y son buenos
Hay otros que luchan um año y son mejores
Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos
Pero hay los que luchan toda la vida
Esos son los imprescindibles"
(Bertolt Brecht)

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

📜Contos Históricos do RS: A Revolta não foi Revolução, Porto Alegre que nunca foi farrapa, vice presidente assassinado no Alegrete e as mentiras destes estancieiros. (CONTO III)*



O MTG NÃO CONTA ASSIM...

A """REVOLUÇÃO""" FARROUPILHA...

Na década de 1830 o Rio Grande do Sul tinha pouco mais de 150 mil habitantes, quase um terço da população eram de escravos negros. 15.000 escravos entraram no estado somente na janela temporal de 1814 à 1823. Poucos detinham a propriedade da terra. Eram colonos na região de Porto Alegre e litoral Norte. Nos resto do estado reinavam os estancieiros sesmeiros que exploravam a mão de obra de escravos negros, e de indígenas, mestiços mal pagos e de errantes (gaúchos) nas épocas de verão quando havia os abates e rodeios de marcação. Foi neste estado desigual que estancieiros reclamavam de qualquer tipo de impostos. Os ricos da metade norte reclamavam ter o peso dos impostos sobre si enquanto os criadores de gado das estâncias pouco pagavam. O historiador Moacyr Flores comenta: "O presidente da província pretendia criar impostos sobre a propriedade rural, pois não achava justo que grandes latifundiários nada pagassem, enquanto o habitante do núcleo urbano, às vezes, tendo apenas uma casinhola para viver, pertencesse ao único grupo contribuinte de impostos territorial e predial." Os latifundiários só aceitavam impostos sobre a produção e nunca sobre seu capital.

Em 1831 D. Pedro I é corrido do Brasil por forças federalistas e se inicia o Período Regencial na espera da maioridade de D. Pedro II. Estouram revoltas como a Setembrada no Ceará onde caboclos pobres foram esmagados pelo mercenário frances Labatut. Em 1835 estouram duas revoltas que dizem muito sobre o Brasil: a Revolta dos Malês, na Bahia, uma revolta de escravos muçulmanos influenciados pelo movimento muçulmano africano de Osmã Dan Fodio, o segundo movimento foi a chamada Revolução Farroupilha, de estancieiros influenciados distantemente por ideais jacobinistas dos "sans culottes"(por isso "farrrapos"). O primeiro movimento foi massacrado, o segundo foi perdodado e indenizado.

A Cabanagem, revolta de pobres moradores de cabanas do Grão Pará acabou com a morte de 30 mil pessoas das quais só se lembra apelidos. Em 1839 os farroupilhas vão à Santa Catarina iniciar a República Juliana, tomam Laguna, Canabarro se torna presidente mas dura poucos meses e é retomada pelo Império. De ganho só o coração de Anita por Garibaldi. E a partir daí só derrotas: 18 de julho, Bento Manoel troca de novo de lado; 1840 . . . 3 de maio, derrota no rio Taquari; 11 de junho derrota no arroio Salso; 16 de julho, São José do Norte resiste e derrota o cerco farroupilha. Em Novembro Bento Gonçalves é derrotado em Viamão e morre Rossetti que escrevia o jornal "O Povo" dos farroupilhas. Em 1841 Garibaldi abandona estes fazendeiros escravistas. Caçapava, a 2a capital farroupilha é tomada(a 1a foi Piratini) pelos legalistas e os documentos se mudam em carros de boi para São Gabriel e de lá para Bagé e de lá para Piratini e de lá para São Gabriel de novo e de lá para Bagé, de novo, e de lá para Cacequi e de lá para o Alegrete (3a capital) e lá é convocada a Assembleia Constituinte da República Riograndense, algo jocoso e tosco para quem nem dominava mais nada! No meio dos debates o vice-presidente farrapo, Antônio Paulo da Fontoura, é morto com um tiro pela janela de um casarão que havia na rua Vasco Alves. Dizem que foi morto por um marido corno que foi guampeado pela esposa com o vice presidente. Mas as suspeitas recaíram em Bento Gonçalves que por isso duelou com Onofre Pires em Livramento, morrendo Onofre. Bento Manoel marcha com tropas legalistas cedidas por Caxias em direção à Alegrete e a capital farroupilha vira um amontoado de caixas em carros de boi escondidos em grotas na serra do Caverá.
O dia 20 de setembro de 1835 seria o início das operações militares dos farroupilhas. Queriam tomar Porto Alegre e derrubar o presidente da província (Fernandes Braga). A primeira ação já foi na noite do dia 19, perto da ponte da Azenha, nos arredores da POA da época (hoje Monumento da Ponte de Pedra__onde passava o navegável arroio Jacareí, hoje desviado, tornando-se o poluído Arroio Dilúvio).
Em Alegrete, Bento Manoel consegue uma Declaração Pacificadora, assinada por todos os vereadores, pedindo paz. E com 200 homens sai em nome da pacificação e sem aderir aos revoltosos. Perto da cidade de Cachoeira, Bento Manoel é acossado e foge perdendo até as botas! Em março de 1836 Bento Manoel desabafa assim à um amigo embaixo de um salso chorão às margens do rio Santa Maria: "infelizmente fui um dos formadores do movimento, me afasto porque está fugindo dos propósitos do começo, do jeito que está, vamos trocar um ditador por outro." Bento Manoel deu a primeira grande derrota aos farroupilhas às margens da Lagoa Funda em Passo do Rosário, 17 de março de 1836. Logo depois libertou Porto Alegre do cerco farroupilha, que o recebeu à badaladas de sinos das Igrejas. Em 11 de setembro de 1836 ocorreu a batalha nos campos de Bagé entre 560 legalistas comandados por João Nunes sa Silva Tavares contra 430 homens sob comando do farroupilha Neto. Neto vence porque Tavares perdeu o freio do cavalo, saiu campo afora e confundiu suas tropas. Após Neto proclama a República Riograndense. Isso tapa de nojo Bento Gonçalves que estava no cerco à Porto Alegre em Viamão. Bento Gonçalves logo é derrotado na Batalha do Fanfa, ilha do Fanfa no rio Jacuí. É capturado e enviado ao RJ. Enquanto isso Neto entrava no estado com tropas do Uruguaio Rivera que já tinha invadido o RS em 1828 na região das Missões e levado guaranis para a morte no massacre em Bella Unión (1832). Era no Uruguai que os farroupilhas vendiam escravos para pagar por pólvora. Bento Manoel troca de lado quando um amigo latifundiário é afastado do comando militar. Em 1837 Bento Gonçalves fugia da prisão no RJ, voltava com os italianos Garibaldi e Rossetti. No RJ teve o golpe da maioridade, D. Pedro II assumia.



Em 1844 a guerra já estava perdida pelos farrapos. Assim, Canabarro negociou o assassinato dos negros que lutaram pelos farroupilhas sob a mentira de que seriam libertos ao fim do conflito. O Corpo de Lanceiros Negros, no seu auge, chegou a ter 8 unidades montadas de 51 homens cada. Mas haviam muitos outros na infantaria de libertos. A ideia de libertar escravos para se unirem às tropas farroupilhas veio do Gen. Netto, um verdadeiro abolicionista, que não tinha suas ideias seguidas pelos outros generais, que muito depois do conflito ainda tinham escravos em suas estâncias. As tropas de escravos libertos foram formadas após a derrota na Batalha do Fanfa (mas a liberdade nunca veio, mas a traição farroupilha sim). Essas tropas Negras eram temidas pelos soldados imperiais e todas com respeito pelo seu heroísmo em batalha. Giuseppe Garibaldi, assim descreveu os Lanceiros Negros na sua biografia "Memórias de Giuseppe Garibaldi":
"""""“[São] soldados de uma disciplina espartana, que com seus rostos de azeviche e coragem inquebrantável, punham verdadeiro terror ao inimigo. (…) Nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes, em cujas fileiras aprendi a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das nações.”"""""

DETALHE: a biografia de Garibaldi foi escrita em 1860, na Sicília, onde ele conheceu o escritor, Negro, francês, Alexandre Dumas, que em 1844 e 1845, havia lançado suas obras mais emblemáticas: "Os três mosqueteiros" e "O conde de Montecristo", respectivamente.

Em 14 de novembro de 1844, ocorre o infame Massacre de Porongos, a traição covarde dos farroupilhas aos seus heróis negros. Os mais de 1000 negros entre lanceiros e infantaria foram desarmados antes do massacre e dos que não foram mortos foram capturados para voltar a serem escravos no RJ. E assim abriu terreno para a rendição na paz do Ponche Verde, úmido de sangue negro. Os latifundiários revoltosos ganharam cargos vitalícios como membros do exército brasileiro. Bento Gonçalves morre em 1847 deixando 53 escravos em sua fazenda em Camaquã. Neto foi acusado de roubar dinheiro da República Riograndense. Foram 3 mil mortos, do lado farrapo quase todos mortos foram negros (iludidos sob promessa de liberdade) e mestiços pobres (os gaúchos) que lutavam por comida e cama.

Uma fala demonstra bem o que realmente motivou essa revolta que NUNCA FOI REVOLUÇÃO: Domingos José de Almeida, riquíssimo latifundiário, dono de charqueadas desabafa sobre o porque apoiou a revolta farroupilha depois de pagar impostos sobre o gado importado do Uruguai (quinto) e sobre o charque exportado (dízimo):

""""O governo central esquecia-se de que ele tinha de pagar os salários dos peões e outros funcionários e cuidar de cem escravos, vida dura!""""

: professor de História e Filosofia da rede pública estadual do RS.

📜Contos Históricos do RS: De paulista ganhando terras, estancieiros milicianos e até plantação de maconha (CONTO II)*

Reflexão do Dia... Semana Gaúcha!!
O QUE NÃO TE CONTAM!!

O Rio Grande do Sul a após matar seus índios: latifundiário nunca nos levou ao progresso!
Após as Guerras Guaraníticas o território missioneiro começou a ser ocupado por grandes lotes, sesmarias, doados pela coroa portuguesa à tropeiros paulistas e curitibanos que usavam mão de obra escrava ou semi escrava os indígenas Guaranis, minuanos e até Charruas sobreviventes (sendo que os charruas eram arredios e trabalhadores sazonais que por vezes levavam o gado das estâncias sesmeiras). As disputas territoriais com os espanhóis fez com que surgissem entrepostos/povoados militarizados. Os sesmeiros tratavam suas estâncias como bases militares, com posteiros nos limites sempre armados e patrões e peões sempre em patrulha. Mas a coroa portuguesa precisava de mais gente e, além de subsequente vinda de levas de escravospara atender os estancieiros, vieram colonos açorianos (do arquipelado de Açores no Atlântico Norte). Alguns chegaram em plena Guerra Guaranítica e não puderam seguir, por via fluvial, à região missioneira e se estabeleceram no chamado Porto de Dorneles (na verdade era Ornelas) nas margens do Lago Guaíba. Mas ali eram terras de um dos estancieiros milicianos, Jerônimo de Ornelas (depois ficou como Dorneles mesmo!) que mataram o líder dos açorianos sem terra que mesmo assim fundaram ali o vilarejo de Porto dos Casais, atual Porto Alegre. (Pois é, o primeiro sem terra no RS foi morto por um estancieiro Dorneles!). Até aí a única atividade econômica lucrativa no RS era a courama, ato de caçar bois selvagens que eram das criações indígenas e tirar o couro e abandonar a carcaça no campo! Logo a coroa portuguesa criou as chamadas Reais Feitorias do Linho-Cânhamo em Cânguçu e a outra no Faxinal do Courita (Hoje São Leopoldo). Plantaram campos de Cannabis para cordame de barcos e quem sabe outros usos...

Até as charqueadas, símbolo da riqueza advinda do latifúndio agropecuário veio pelas mãos de um cearense, José Pinto Martins, que montou a primeira charqueada para fins comerciais em 1780 na beira do arroio Pelotas. Em 1824, após a independência do Brasil e o fim das doações de sesmarias, vieram os primeiros imigrantes alemães ao RS. Estes ganhavam só 77hectares enquanto estancieiros ganhavam 3,6 milhas de cumprimento por uma de largura (1 milha terrestre equivale à 1,6km) e ainda mais outras em nome da mulher, cada parente agregado e até filho de colo. Colonos alemães ocuparam regiões de São Leopoldo até a Serra Gaúcha. Seguiram os açorianos (que já plantavam trigo) e iniciaram o plantio de diversificadas culturas que abasteciam tanto as cidades locais quando o resto do país. Enquanto nos latifundios da metade Sul do RS só escravos cuidavam de pomares e hortas, na metade Norte o desenvolvimento veio pela dinâmica do trabalho livre e produção para o consumo local. Em 1860 o RS já era chamado de "celeiro do Brasil" por culpa dos imigrantes açorianos, alemães, italianos, que também desmataram e mataram índios nas ocupações da serra gaúcha e catarinense com seus "bugreiros" caçadores dos últimos indígenas, os caiguangues ("povo do mato" em tupi. Mistura de etnias perseguidas nas outras regiões).

E assim o RS se constituía: assassinou seus índios, tinha uma metade norte multicultural pela imigração que trazia também dinamismo econômico enquanto a metade sul tinha um polo de riqueza no charque e grandes vazios populacionais (criou estas distâncias gigantes entre as cidades nas regiões do Pampa) que pelo trabalho escravo só reproduz até hoje seu autoritarismo e impõe sua visão de mundo via aculturação do MTG. Foram estes escravistas atrasados que fizeram a "Revolta Farroupilha". Por isso a metade norte os ignorou e ficou com o Império!

: professor de História e Filosofia da rede pública estadual do RS.

📜Contos históricos do Rio Grande do Sul: As origens do termo """gaúcho""" e nossas heranças indígenas. (Conto I)*

                                                        
Reflexão do Dia... Semana Gaúcha!
A História que NÃO TE CONTAM!

O primeiro registro de """gaúcho""" surgiu em Santa Fé (atual Argentina) em 1617, quando "moços perdidos", vestidos ao estilo dos charruas, com botas de garrão de potro, chiripá e poncho, e assaltavam as estâncias de gado. Cartas jesuítas de 1686 falam nos "vagos ou vagabundos" pilhando estâncias missioneiras. Em 1820, Saint-Hilaire estabeleceu as diferenças entre o "campeiro", que trabalhava nas estâncias, e o "gaúcho", pilhador, ladrão que não entendia o significado de pátria. Notem, todas essas alcunhas vieram de escritores que representavam o poder político e econômico colonialista. Sendo assim podemos, numa perspectiva dos oprimidos, afirmar que o gaúcho histórico negava a condição de domado pelos poderosos e ignorava acordos sociais. A etimologia da palavra vem do idioma dos índios andinos Mapuches, que quer dizer "homem solitário, solteiro". Ou seja, nada de parecido com a ideia de gaúcho que o MTG nos conta ou que o poder do latifúndio quer que saibamos, pois querem um gaúcho subserviente que odeia outros oprimidos como se ele o fosse parte dos opressores sem ser dono nem da terra debaixo das unhas ...

Gaúcho não existiria sem os indígenas locais!
Exatamente, o gaúcho moderno nasce ainda no século XIX como identidade que misturava o gaúcho histórico (sem pátria, sem patrões) com o campeiro subserviente ao fazendeiro dono de estância. Foi dos indígenas que herdamos o chimarrão, da cultura Guarani que tinha na erva mate uma planta sagrada que estes plantavam junto aos jesuítas quando estes foram arregimentados para as Reduções (Missões) jesuíticas. Já o andar a cavalo, chiripá, churrasco de espeto cravado ao chão e a bravura vem dos charruas que habitavam os campos que hoje são a metade sul do RS, o Uruguai e o norte da Argentina. Mas foi exatamente o latifúndio em forma de sesmarias que aniquilou os indígenas. A ocupação do sul pelos portugueses inicia com a criação na Colônia do Sacramento (margem leste do Rio da Prata no atual Uruguai) em 1580. Quando da sua troca pelos Sete Povos Orientais (Sete Povos das Missões) em 1750, com o Tratado de Madrid, os portugueses e espanhóis iniciaram uma Guerra contra os Guaranis que resistiram. Seu cacique Sepé Tiarajú tombou na batalha do Caiboaté (interior do atual munícipio de São Gabriel) no dia 7 de fevereiro de 1756 (no local de sua morte, em 1961 se construiu uma cruz de concreto de 5 metros de altura) Mas antes gritou aos invasores: "esta terra tem dono!"

Os charruas foram nunca foram arregimentados pelos jesuítas como os Guaranis ou fizeram acordos com portugueses como os minuanos que habitavam a "boca do inferno" (ligação entre o Oceano Atlântico e a Lagoa dos Patos, atual cidadede Rio Grande). Os charruas conheceram o cavalo via cavalos selvagens introduzidos pelos colonizadores. Lutavam com bravura e nunca se adequavam aos europeus. Nunca foram escravizados. Foram caçados com brutalidade por portugueses e espanhóis. O gen. Rivera oferecia dinheiro a quem entregasse um par de orelhas e o saco escrotal de índio charrua morto. Por fim ele os traiu sob promessa de paz e os aniquilou. Os últimos 3 charruas (um homem, uma mulher e uma criança) foram enviados à França em 1831 para serem atração de um zoológico humano. Dizem que um dia o charrua os viu tentando domar um cavalo extremamente arredio e se aproximou, ele, com calma, alisou o animal e em minutos montou-o sem rédeas. Espantados, os franceses perguntam como ele conseguiu domar o animal. Ao que o charrua responde: "eu não o domei, ele me escolheu para monta-lo!"

Estudos de 2001 da geneticista Maria Cátira Bortolini revelou que ainda temos presença da genética Charrua nos habitantes da região de fronteira. No sangue a resistência charrua que só falta descobrir que hoje está sendo enganado por uma versão de História contada pelo MTG que, para proteger a imagética do latifúndio, esconde a barbárie por detrás da ocupação deste território. Esconde a limpeza étnica dos indígenas pelas mãos do mesmo poder do estancieiro que hoje o quer de cócoras, sem revolta com a exploração para mais facilmente ser dominado.
: Professor de História e Filosofia da rede pública estadual do RS.