, uma crítica de Runildo Pinto e Guilhermo Yuri M. Pinto
Reconhecemos o "Negrinho do Pastoreio", como uma
lenda popular no Rio Grande do Sul. Só, que o tradicionalismo guasca,
como tudo em que toca, inverte seu valor e significado, reduz tudo a um
aliciamento aos interesses do latifúndio. Observem a formação do CTG: é a representação da Estância, da Fazenda. A
estrutura não é republicana, mas escravista: patrão - capataz e o peão.
Temos que resgatar a figura do "Negrinho do Pastoreio", como uma figura
popular, do povo que foi oprimido e é oprimido na sociedade.
É
manifesto que a história do Rio Grande do Sul não começou por um
sentimento de legítima nacionalidade. Poucas pessoas empenharam-se
em movimentar toda uma região para conquistar este grande estado,
por puro interesse particular. O de obter terras e poder.
A
lenda Negrinho do Pastoreio, mostra a mentalidade egoísta e raivosa
dos latifundiários, que plantaram uma visão grosseira de mundo,
baseada na prepotência sugerida pelo poder que tem o estancieiro.
Dono de grande quantidade de terra, considera-se o “Senhor do
Universo”, com direito à impunidade. Esta condição exacerbada
ainda hoje dita o comportamento e a conduta moral dos gaúchos.
No
texto do escritor Scliar, vê-se, que o estancieiro possuia tanta
terra que os cavalos perdiam-se no campo. Isto dificultava ainda
mais a vida do Negrinho. Segundo o autor, “...o Negrinho perde a
grande querência como o lar acolhedor e hospitaleiro dos gaúchos”.
Mas, o Negrinho, não perdeu nada! Este lar é seu desafeto, tudo o
que o Negrinho nunca teve.
Na
frase: ".....o Negrinho do Pastoreio mora para sempre na grande
e acolhedora querência que é a bela tradição do Rio Grande do
Sul....", demonstra a conivência do autor com a mentalidade
bruta do latifundiário que baseia tudo na vida à imensidão das
terras que possui. Uma visão de grandeza, que diminui a mentalidade
e o ser humano rio-grandense, representa o atraso no desenvolvimento
produtivo, desqualifica a cultura – reforça uma pseudocultura e,
com base na doma, como educação, cria um homem truculento, pois
tende a explicitar os interesses e modo de vida do fazendeiro e
embrutecendo moralmente a população, além de causar exclusão
social e submissão político-ideológica a esta oligarquia.
O
que se conclui do texto, é que o autor entra em contradição,
porque não teve a coragem de contar as reais condições do
escravismo no Rio Grande do Sul. Mostrou todas as causas do
sofrimento do Negrinho, como se fosse tudo muito bonito e acabou
capitulando diante da tradição conservadora e reacionária da
cultura guasca, dando uma interpretação que exalta a figura do
estancieiro e dá reconhecimento definitivo de que a base dessa
cultura do embrutecimento é uma cultura autêntica, conveniente.
Reforça uma concepção de solidariedade totalmente deturpada para
a formação da população gaúcha, prega a servidão. O Sr. Scliar
não cansa de enfatizar a cada parágrafo que tudo é grande, sendo
caudatário à cultura do latifúndio. Portanto, o Negrinho nunca
teve Querência e muito menos laços de afeição. E sua alma
continua vagando no além....