Por, Eric Vargas: Professor de História
Militares e fazendeiros, os herdeiros do latifúndio escravista pariram seu filho:
O TRADICIONALISMO. Muito antes do MTG!
No ano de 1898, é fundado em 22 de maio, na cidade de Porto Alegre, o 1° Grêmio Gaúcho. É a data oficial de nascimento do Tradicionalismo, Inspirado nas idéias do Partenon literário e nas Sociedades Crioulas que existiam no Uruguai, João Cezimbra Jacques, um major, republicano e positivista, cria essa entidade com o intuito de cultuar as tradições gaúchas, tendo como herói e símbolo máximo, o general da revolução Farroupilha, Bento Gonçalves da Silva (assim sendo, o símbolo máximo deste movimento era um militar/latifundiário). O papel dos Grêmios Gaúchos seria de "reviver os bons costumes antigos e cultuar as grandes datas cívicas do RS", tudo dentro da visão Positivista, elitista e militarizada do conservadorismo que além disso só admitia pessoas que soubessem ler (algo um tanto difícil na época no RS) e que tivessem postos importantes na sociedade. Vários Grêmios Gaúchos foram fundados pelo estado: Pelotas (1899); Santa Maria (1901); Santa Cruz e Encruzilhada (1902); São Leopoldo (1938); Ijuí (1943). Nesta época da fundação do último já surgia o CTG moderno que ligado ao MTG levava às massas a aculturação fechada dos Grêmios Gaúchos. Era o início da imposição à todo o povo Riograndense da visão de mundo dos latifundiários, seus preconceitos raciais e de classe impregnaram a epiderme social via manipulação histórica que confunde o real, o herdado dos indígenas com o irreal, o inventado, o folclore se sobrepunha à História.
Em meio à ascensão dos Grêmios Gaúchos o escritor João Simões Lopes Neto publica o livro "Lendas do Sul" em 1912, e entre algumas histórias de ode a farroupilhas para postular sua subserviência de classe, ele também publica uma versão da velha lenda de resistência do negro escravo dos estancieiros do sul, era a lenda do Negrinho do Pastoreio que serviu de inspiração ao artista Vasco Prado que colocou uma obra extremamente crítica ao tradicionalismo míope no coração do latifúndio . . . o município de ALEGRETE, na Praça Rui Ramos (conhecida pelos alegretenses por Praça dos Patinhos . . . apesar de há decadas nem sinal de patos). Sobre a obra (na imagem da postagem) saiu a seguinte notícia no Jornal Correio do povo no ano de sua inauguração:
“O cavalo, com formas desproporcionais, mostra que o animal é mais valorizado que o homem, o qual é representado pelo Negrinho, com uma cabeça reduzida, dado ao seu subdesenvolvimento intelectual; a barriga côncava por que tem fome, porque é subnutrido, e seus braços erguidos pedem paz e mostram que ele se libertou dos grilhões que o prendiam a uma economia [...], enquanto que o cavalo alça vôo em direção a Usina Termoelétrica Oswaldo Aranha, localizada perto da praça, que representa um marco de desenvolvimento da região.” (CORREIO DO POVO,1977 apud GOLIN, 1983, p.94)
Hoje muitos alegretenses nem apercebem-se do significado crítico da obra enquando sorvem seu chimarrão nas imediações.
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